Queria eu ter quarenta anos para acreditar que ainda se tem muito o que viver e a vontade bruta de fazê-lo, que ainda se tem muito caminho a percorrer, e que por mais simples que se possa ser, a felicidade plena continua sendo buscada com uma procura que não cessa.
Queria eu ter quarenta anos para entender que aos dezesseis eu não podia nunca ter posto um cigarro entre os lábios pensando que aquilo me faria mal, mas crendo que o prazer era maior. Para entender que os momentos realmente são únicos e caso não resolva aproveitá-los, aos sessenta e cinco farão-me falta maior.
Queria eu ter tantos anos a mais para entender o que é diferença deixando de lado os superlativos e encarando idéias como complementos, para saber o gosto bom que tem a compreensão e os benefícios que o equilíbrio poderia ter me trazido tão mais cedo.
Queria eu ter quarenta anos e sentir no mais íntimo desse corpo fútil aquilo que me faria mais humano, queria saber que eu vou embora daqui, mas que preciso deixar as portas abertas, porque meus filhos virão e precisarão de espaço. Ainda que as pessoas continuem a ir embora ou insistam em arranhões, queria eu compreendê-las, uma vez que faço parte delas.
Queria eu ter esses anos para rir de mim mesma quando era aos dezesseis, a mais infantil e mesquinha das pessoínhas.
Queria ainda assim, ver que o mundo está dentro de mim, que as escolhas são unicamente minhas e que as opções estão mais que disponíveis, mas queria conciliar tudo isso com um saudável relacionamento com uns bilhões tão egoístas e ambiciosos como eu.
Queria eu ter quarenta anos.
Quarenta anos para diferir bom gosto de qualidade e maldade de mentira.
E queria ter quarenta anos sem pensar que tudo veio tarde de mais.
dentro de seu umbigo
24.2.03
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