27.2.03

Querido Frank Zappa,

Estas singelas mal traçadas linhas, tem a intenção de encher o seu genial saco. Pôxa Frank, caí na sua lábia sensitiva e me fodi. Lembra daquele bendito dia, lá pelos idos de 1976, quando te conheci?
Era uma tarde bem quente, típica do interior de São Paulo. Minha prima Mirian, que namorava um cara de rádio da capital, chegou lá em casa com uma montanha de discos que ganhou do namorado.Como ela só gostava de Maria Bethania, perguntou se eu queria escolher alguns pra mim.

Lembra Frank? Eu fiquei com todos. Até aquele dia, eu era muito feliz amando os Beatles, Elton John, Rick Wakeman, Rita Lee e os Mutantes.
De repente, a desgraça. A perdição. Na mão de um garoto amalucado e sensível ao cubo, um mundo se descortinou: Marvin Gaye, Credence, Robert Fripp, Mahavishnu, T.Rex, David Bowie, Animals, Zeppelin, Yes, Jethru Tull, Dixies, ELO, Steve Miller, Elvis Costello e...você.

Eram exatamente 51 discos. Entre eles, dois eram teus.
Pôrra Frank, ouvindo as coisas que tu fazias, tive a certeza de que todo mundo devia, no mínimo, aprender a pensar por si mesmo. A ler bons livros, a viver uma vida mais livre e interagir inteligentemente através do discurso, da prosa. A questionar e buscar. Vc me afirmou que a música era um meio poderoso de chegar a um lugar mais...interessante. Não importa o quanto a gente fracasse.Errar também é um tesão, vamos rir disso também. Escrever, ler, ouvir, cantar, fazer, buscar, buscar, buscar.

Ainda acho que vc estava certo, brother Zappa.Mas o que é que deu errado?
Não aguento mais Quéli-kí, Funquebosta, biguebróder, revista caras e filosofia barata. Onde está a juventude que pulsa e morde? Somos muitos calados ou somos poucos e fracos?
Porra Frank, toque a trombeta aí de cima e acorde nossa tribo. Eu espero um sinal teu. Ainda tenho vontade de brigar. Ainda quero aquele mundo que vc me mostrou.

Do seu amigo bem naif,

Enio Sam.

Patos e Fotos - Radio blah!

Nenhum comentário: