Vais ficar assim, dentro de mim, algo torto, meio morto, como um espinho que a pele não rejeita, cobre de tecido e com o tempo, a gente nem sente mais. Vais ficar silente e imóvel, como uma jóia perdida no mar, enterrada na areia, de resgate impossivel. Vais ficar esquecido como um poema escrito em um caderno em desuso, metido no fundo de uma caixa qualquer, dentro de uma estante no sótão. Vais ficar inerte e seco, como uma rosa prensada dentro de um diário antigo. Uma ameaça inócua e longínqua. E não vou mais lembrar de ti, e não vais mais doer, e meus olhos não serão mais fonte das lágrimas com teu gosto, e não vou mais gritar teu nome, nem amaldiçoar tua casa. Não vou calçar mais teus sapatos, meus dias não serão mais sombras dos teus sóis, não vou mais acordar à noite sentindo tua presença ao meu lado até que alguma onda revolva a terra e vomite na praia o teu tesouro, até o dia que a pele inflame e o espinho coloque a ponta para fora, até o dia em que um poema, uma música ou a vida, por qualquer circunstância, te arranque de lá e te esfregue na minha cara, para minha imensa vergonha. Então me surpreenderei com o quanto consegui me enganar e por quanto tempo.
Have a Sit
27.2.03
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