14.3.03

Do you wanna get heavy?

E de repente ele apareceu com uma camiseta que imediatamente me fez lembrar de tudo:
Da noite, das músicas, das palavras.
Da cerveja, do vinho, dos filmes preferidos.
Do pôster de Pulp Fiction que eu tenho colado na parede do meu quarto.
Da barba por fazer machucando meu rosto.
Da minha língua deslizando dentro da boca úmida e vermelha.
Do toque, das confissões tímidas, do sorriso quase escondido.
Dos contos escrotos que envolviam incesto e outras coisas.
Do pedido para que no dia seguinte eu o beijasse novamente.
Das ruas sujas e escuras.
Do meu bar preferido.
Dos comentários óbvios e/ou assustados.
Da fase foda pela qual eu passava.
De como eu achei que tudo poderia ser diferente.
Do telefone que não tocou no dia seguinte, nem no seguinte e menos ainda no seguinte.
Dos olhares que fugiam e pareciam pedir que nenhum de nós dois estívessemos ali de verdade.
Do meu medo.
Da minha covardia e insegurança disfarçadas em um comportamento pseudo-amigável e prático.
Do meu ar blasé.
Do modo errado que conduzi tudo isso.
De tudo que mudou em mim.
De tudo que insisti em manter mesmo vendo que estava jogando um monte de coisas fora.
De tudo que eu não fiz.
Das palavras que eu teimei em não dizer.
Da minha insistência em foder tudo.
Da minha maneira auto-destrutiva de enxergar a vida.
Das chances que eu perdi.
Das conversas imaginárias que tive.
Da fase foda pela qual eu passo novamente.
Das chances que eu talvez ainda tenha.
Ou não.

Passe Geléia de Pérolas nas suas dúvidas

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