Não sei se eu cheguei a contar de quando virei um náufrago.
Eu tinha participado de um programa na extinta Rede Manchete chamado "Responde ou Lambe". Prefiro não entrar em detalhes sobre como era o programa e como foi a minha participação. Só importa dizer que, como sempre, fiquei com o prêmio de consoloção. Era um cruzeiro Rio-Paquetá.
Fui fazer o cruzeiro. O comandante da embarcação errou um pouco o caminho e acabou batendo em um iceberg. Pulei na água e quando me dei conta, estava em uma ilha deserta no meio do nada.
A príncipio, eu lembrei daquele negócio de "que CD, livro e mulher você levaria para uma ilha deserta". Só que depois lembrei que não tinha levado CD, livro, nem mulher praquela ilha deserta.
Não havia ninguém naquela ilha. Só tinha coqueiros, coqueiros e coqueiros pra todos os lados. Estava sentindo falta de uma lojinha de conveniência. Então, pensei que seria um bom negócio abrir uma, já que não haveria concorrência. E foi o que fiz. Abri uma lojinha de conveniência na ilha deserta.
No começo, achei que fosse dar errado, por falta de cliente. Depois, cheguei à conclusão de que, se eu mesmo comprasse as coisas que eu estava vendendo, seria ótimo porque o meu dinheiro nunca iria acabar. Acho que nem Adam Smith tinha pensado nisso.
Criei o dinheiro da ilha, usando pedaços de papel, e imediatamente já coloquei em circulação, comprando na minha loja. O dinheiro todo da ilha contava, no total, dez dinheiros.
Era a economia perfeita. O PIB baixo, de dez dinheiros, era compensado pela distribuição de renda ideal, de dez dinheiros per capita. Afinal, eu era o único habitante da ilha.
O problema é que, com esse negócio de dinheiro, começaram a aparecer na ilha os problemas sociais: assaltantes, mendigos, desemprego e os bancos.
Quando a situação naquela ilha deserta já estava insuportável, abandonei o lugar, munido de uma bóia de patinho. Hoje, fico imaginando se, com população zero, a ilha consegue novamente prosperar.
vida ou-
4.3.03
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