28.3.03

Um dia num bar, um pai e uma mãe

"Os mitos dessa geração não duram mesmo..."

Largou essa pensativo,o olhar perdido do outro lado da mesa, esperando a cerveja chegar.

"Ahn?"

Eu estava com o olhar perdido no lado oposto, tentando ver quem tinha passado o bilhetinho com Leminskis.

"Os mitos da sua geração. O André Sant'anna parou de beber, você casou e tá grávida..."

Pronto, de novo. Agora todo mundo acha que eu passo o dia perambulando pela casa de avental sujo de molho de tomate, colher de pau na mão e panela no fogo. Nada disso. Eu passo o dia perambulando pela casa sem roupa, olhando as caixas, sentando no computador alheio às vezes e desolando-me com a eterna bagunça. É bem pior. Eu nem sei cozinhar.

"Rá. Espera o Beanie nascer pra você ver. Vou fazer tudo que fazia e não fiz nesses últimos meses, tá?"

Olhares entre o casal. Eles têm um filho. Olhares risonhos entre o casal que tem um filho. Eles desistiram da boemia. Eles sabem tudo. Tudo sobre as fraldas e os choros noturnos. Tudo sobre tudo. Eles riram de mim. Ai, meu deus. Aiaiai, meu deus.

Enchi um copo de cerveja, só um, e acendi um cigarro, só um, pra não me sentir a última da minha raça.

Pensei: é temporário.
Pensei: é só até parar de amamentar.

Amamentar, ainda tem que amamentar, ainda vai demorar. Eu vou ter um ataque, vou ter que inventar alguma coisa, café, sei lá, alguma coisa.

Alguma coisa.
Se bem que os hormônios andam dando conta.

Lady Averbuck ars longa, vita brevis

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