7.3.03

UM URUGUAIO JUDEU NA HOLANDA #1

Cheguei ao Recife anteontem. Dormi.

Acordei ontem e depois de alguma benigna refeição, fomos para Olinda. Uma van batida, com a traseira esmagada. Toca ficha.

Chegando ao sopé do morro que abriga a cidade histórica, confusão: pilhas de pedestres fantasiados das coisas mais absurdas, ambulantes vendendo álcool, pilhas, arminhas d´água do tamanho de bazucas e tapioca. Cerveja a R$ 1,50: bom valor para um europeu falso como eu.

No topo, pessoas. Música. Cessam os pocotós e mortos muito loucos e ouve-se, basicamente, a percussão dos blocos. Maracatu. 90% do tempo sem vocal. Pessoal se atira, mas nem tanto: o trago é violento, a chaura fumega solta, mas a putaria é menos intensa do que eu imaginava. Perde feio em HUMAN DEBAUCHERY pro Carnaval de Laguna, esse sim o supra-sumo da decadência.

Ao contrário de outras paragens, a festa aqui não parece ter somente o aspecto TRIBUFU da coisa: é gente de tudo que é lugar, idade, credo e cor misturada no meio do festerê que só aqui parece fazer algum sentido de verdade. Prédios antiquíssimos e bonecos coloridos. Aliás, tudo é colorido. E lá vai mais um bloco descendo a ladeira, só com percussão, instrumentos de sopro e eventuais puxadas de cantos tradicionais em algumas paradas. Ah: tudo isso acontecendo de tarde, diga-se de passagem.

Voltamos no início da noite, e eu estou quebrado e consideravelmente ébrio. Pausa pra algum descanso e nos tocamos pro centro velho, onde rola o Rec Beat. No caminho (feito à pé), noto a sujeira assombrosa que se empilha pelas ruas. Somado a isso, grossas camadas de MUCO e um nauseabundo fedor de mijo com vômito, atestando que alguma massa grande de gente passou por aquele lugar poucas horas antes. "No final da noite eles limpam tudo". E qual não é minha surpresa ao retornar para casa com pilhas e pilhas de lixo, mas dessa vez totalmente organizadas e esperando o caminhão recolher o sub-produto da alegria exagerada.

Chegamos ao que parece ser o CENTRO DO CENTRO. Ali, dois palcos dividem a atenção dos presentes: um toca um drum ´n bass furioso com uma carga de graves que faz coçar os pré-molares de qualquer um. Junto disso acontece um desfile de moda, mas não sei se tem muita gente atenta às modelos esquálidas que ficam fazendo pose debaixo do gelo seco.

Ainda pelo centro, passamos pelo que chamam de RUA DOS JUDEUS. Milhares de barzinhos encravados na arquitetura do século retrasado, milhares de pessoas, bandinhas. Não dá pra parar porque não tem onde parar. Mas a visão é das mais regozijantes: muita coisa acontecendo, como diria meu amigo Firpo. Ele não mentiu.

Mas eis que, por alguma artimanha de meus cicerones, adentramos uma festa no PÓLO DAS FANTASIAS. Um lugar fechado, onde STALLONE fazia, resoluto, a segurança da entrada. Demos o carteiraço from hell e nos metemos adiante.

O lugar tocava DRUMBA QUERIDO, CHICO SCIENCE e GALA, mais ou menos por assim dizer. Novamente, som ensurdecedor. Acho que ninguém aqui preza muito por tímpanos. Além disso, uma ESTROBO DO MAL de fazer qualquer monge virar IAN CURTIS.

Começo a ensaiar meus primeiros passos da Dança de New York em solo pernambucano, quando sou informado pelos anfitriões: "a copa é liberada, se tu não notou".

BOM: aí se seguiu um festival de ME DÁ ESSE TROÇO ICE E UM COPO DE GELO AE, PARCÊ. Tomou-se uns três. Pra quem estava bebendo desde a uma da tarde, o efeito foi no mínimo ESTRIQUINANTE. Fora isso, submeti-me a uma overdose de SALGADINHOS POCCO´S sabor BACON e BATATA, que podiam ser violentados a vontade em GÔNDOLAS que ornavam as paredes do estabelecimento. Talvez essa seja a explicação pra eu ter encontrado com TIM MAIA no terraço, o que me provocou uma pesada taquicardia DA PORRA.

-- "TIM! Tu por aqui"?
-- "Tim é o caralho, viadinho. Tá me achando com cara de ITALIANO"?
-- "Desculpa aí, Síndico. Mas é que eu achei que tu tivesse vestido o paletó de madeira. E tu me aparece assim, de canto, tomando uma ceva como quem não quer nada".
-- "Morto? Tu tá louco, pivetinho de merda"?
-- "É o que dizem por aí, véio. Todo mundo te dá como morto".
-- "Malditos maconheiros. É por isso que nunca meti essa erva na boca. É tudo louco".
-- "Ah, não me vem com essa história, gordão. Eu sei que toma 3 garrafas de whisky por dia e ainda cheira uma QUAKER por tabela nas festinha".

Sei que o papo não se estendeu muito. Quando eu perguntei se ele tinha umas amilas pra eu tentar resolver o problema com o meu coração, entraram quatro DA LEI e levaram o gordo lá pra baixo. Não pude nem pedir um autógrafo pro desgraçado.

BIG MUFF

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