4.4.03

Cheguei hoje do Centro de Reabilitação e corri pra destampar e cheirar as panelas, nhamnham, pensando no almoço. Mal me dou conta que minha mãe estava com visita na cozinha, uma prima distante, devidamente aboletada na mesa, comendo pão, queijo, tapioca, café.

- Oh, Anita! Como vai? Está tão bonita!
- Oi, D. Bernadete! Tudo bem com a senhora? (o arroz tá quase ficando pronto, a carne já tá no jeito).
- Tudo bem, minha filha.
- ... (aqui entra aquele sorriso educado, social, polido).
- Não esqueço nunca de Anita dizendo que ia se formar e voltar pra trabalhar em Limoeiro pra poder visitar a família sempre...!

Deixei cair a tampa do feijão, me virei de repente pra encarar a mulher e ainda esbarrei numa faca que foi parar no chão. Respiração suspensa, me arrisco a olhar pros zoião verdão da minha mãe que estão menores nessa hora, apertadinhos, a boca franzida, uma sobrancelha levantada - já ficou tête-a-tête com o sarcasmo?

- Hein? Ãh? É. É mesmo.

Fui embora pensando se isso aconteceu mesmo. Se aconteceu, eu estava bêbada.
Ou estava D. Bernadete.

nepotismo do Arroz-de-leite

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