9.4.03

É difícil escrever ou ler quando nada mais surpreende.
Ausência de perplexidade vendo o mundo com o tédio dos intelectuais envelhecidos, onde tudo é plural, e a verossimilhança é apenas, obvia .
Não há tristeza nem alegria, é viver por viver. Os jovens desesperançados são assim. As crianças velhas, são assim.

Vivo entre os quinze anos da minha filha e os sessenta da minha mãe. Nunca terei a idade que não seja o intervalo dessas duas. Isso é lógica.

Não sei mais o que pensar e de tanto pensar, desisti.
Os livros, os filmes, não são melhores ou piores que antes.

Recebo um livro autografado e não me encanta como me encantou um dia. Não há mais palavra nova, nem traço que surpreenda.

E envelhecer não dói. O que mais dói é ver que só é livre depois de velho.
Livre das grandes surpresas, me tornei covarde itinerante, com o medo de plantão anunciado na TV, na salas, na Feiras, nos táxis.

Meus Deus, sempre chamo por Meu Deus quando estou feliz, quando estou triste e quando não sou nem uma coisa nem outra. Acho mesmo que Deus é o interlocutor mais freqüente de quem escreve para viver.

Quero ser pragmática. Escrever como macho. Mas sou ambivalente; sou anjo, ou borboleta.
Não tenho desejos insanos nem de filho, nem de pai, nem de homem, nem de mulher e nem de bicho.

Eu quero decorar a Bíblia, as falas de Hamlet, e aprender o que Freud possibilitou como Luz.
Mas a bíblia não me explica a Teologia da libertação, Hamlet não passa de um adolescente pirado, e Freud me traiu com o Prozac.

Nada novo.
Mas uma voz teimosa fala do canto da sala onde os meus mortos moram: Novo, novinho mesmo, não tem, nem nunca teve, descobrir o novo no velho é que são elas. Vai lá e remexe na letras velhas, mexa no tom, pronuncie a palavra Dogma com a voz de hoje. Vai lá tira aquele livro fininho da estante e vai ver que o D. Quixote ainda tem um sentido que não descobriu, vai lá converse com seu analista de plantão e veja como ele continua balançando a cabeça com ar de inteligência absoluta e falso interesse e resolveu não falar nada, nunca mais. Quem sabe dessa vez, a Julieta e o Romeu não morrem, ou Leonardo Boff traduziu a Bíblia para a sua linguagem e que o Prozac só ajuda mas não substitui.

É, quem sabe.

E Tertulianicamente repito - acredito porque é absurdo.

Sem saída

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