22.4.03

Escolhendo nossos irmãos

Não sei bem porque quis falar disso. Na verdade, sei, foi por causa de uma prima. Fui para a festa de oitenta anos de uma tia, neste feriado, em Goiânia (aquela sucursal do inferno...). Apesar de eu, via de regra, gostar de festinhas de família, esta foi especialmente chata. Muitos parentes desconhecidos (minha família é absurdamente grande). Um restaurante horrível. Milhares de pernilongos me comendo pelos tornozelos. Um calor miserável. Uma umidade tal que é uma afronta a qualquer cidadão brasiliense que realmente goste da secura habitual de Brasília (como eu). Este era o quadro. E eu lá. Enfim...

Dos poucos parentes que eu conhecia, a imensa maioria era de Brasília. Pessoas que, apesar de serem alvo da minha estima, só vejo em ocasiões sociais, tais como aniversário ou Natal. Dentre estes, tem uma prima, a Ju, que só vejo raríssimas vezes. Sempre que eu estou numa festa, ela não está. Ou vice-versa. Nesta, coincidiu de estarmos as duas.

Como a gente nunca se vê, fiz a tradicional pergunta "e você? como está? conte-me sua vida..."
E ela contou. Por horas. E contou detalhes que eu só contaria para minha melhor amiga. E eu, claro, dei conselhos. Acabou que ela quer que eu conheça o novo namorado para ver "o que eu acho dele".
Comentando, mais tarde, sobre essa conversa com a madrinha dela (claro que não falando o QUE conversamos mas o QUANTO conversamos), ela disse que era bom que a gente conversasse, qua Ju era uma pessoa muito sozinha, muito sem amigos e que ela não tem com quem falar da dúvidas existenciais dela, essas coisas...

Bem, por que toda essa história? Pelo seguinte:
Fiquei pensando na Ju, depois disso. Ela é uma garota de 24 anos, linda (mesmo) e super agradável. 1000 vezes mais simpática que eu. Talvez um pouco mais tímida, mas só um pouco. E não tem amigos. Não tem amigos. Como assim "não tem amigos"?

Não consigo conceber uma pessoa sem amigos. Sempre tive amigos. Vários. Às dezenas. Alguns mais próximos, outros nem tanto. Dentre eles, sempre houve alguns que eram os melhores, tipo pau para toda obra. E, dentres estes, sempre houve o melhor ou a melhor. Aquele que era uma parte de mim. Aquele que, mesmo tendo saído da minha vida, eu sempre vou amar.

Amigos, para mim, são irmãos. Costumo dizer que, se meu namorado me traísse com a minha melhor amiga, eu seria capaz de perdoá-lo. Mas nunca seria capaz de perdoá-la. Minha melhor amiga é uma parte de mim. Me conhece. Em tudo. E sabe disso. É a pessoa em que mais confio e sabe disso. É uma das pessoas que eu mais amo e também sabe disso. Não pode me trair. Nunca. Ou não merece todo o meu amor e toda a minha confiança.
Já fui traída por amigos? Já. Por um melhor amigo? Já. O que aconteceu foi que me afastei definitivamente da pessoa em questão. Mas não perdi a confiança na Amizade. Arranjei novos amigos e confio neles como se nunca tivesse queimado minha mão. Em se tratando de amigos, o provérbio "gato escaldado tem medo de água fria" não funciona comigo. Este gato escaldado aqui continua se jogando na água, com prazer.
Não sei como seria minha vida sem meus amigos. Acho que não seria. Não conseguiria passar por ela sem alguém ao meu lado. A minha tia disse que a Ju se apaixona muito rápido. E é verdade porque ela está saindo com esse novo namorado há menos de uma semana e já está completamente apaixonada. Acho que isso se dá pelo fato de ela não ter amigos. Não tendo em quem se apoiar, ela deposita todas as expectativas em quem se aproxima, no caso, o namorado.

Vou ligar mais para ela. Para conversar, para saírmos juntas, sei lá. Para ela desabafar. Para ela ter uma amiga.

C'est la vie ...

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