11.4.03

Esta é, provavelmente, a última crônica que escrevo neste blog. Acabo de saber que ganhei o prêmio acumulado da mega-sena. E administrar cerca de US$ 4 milhões é tarefa que vai consumir muito tempo, fora as viagens necessárias para levar todo esse dinheiro para a Suíça e Cayman e a mim próprio para outros paraísos.

Não estou muito nervoso nem ansioso, porque há algum tempo vinha me preparando para este momento. Inúmeras vezes, ao abrir o saite da Caixa para ver os resultados, interpretava o fato de não ter ganho à Providência Divina: é que ainda não estava pronto, nem tudo estava planejado. Mas agora foi tranqüilo.

Minha agente de viagem, eficiente e gentil, acaba de me avisar que conseguiu fechar as reservas para essa primeira viagem, necessária mais para fugir dos bordejos, dos pedidos de empréstimo e de entrevistas. Nesta época a primeira classe dos aviões não anda mesmo tão lotada.

Logo depois de pegar o dinheiro e fazer as devidas transferências, organizando tudo para permitir as movimentações imediatas e as de médio prazo, vou trocar meu Lada por um carro novo, espaçoso, com ar condicionado, para poder chegar ao aeroporto em alto estilo. E vou ao shopping comprar um conjunto de malas bordô que vi numa vitrina.

No final da tarde vou para Guarulhos, onde a primeira classe da United me espera. E amanhã, depois de tomar banho no aeroporto de Miami, na sala vip, pego o carro (pedi um com quatro portas e direção hidráulica) e dirijo até Orlando, cidade com a qual tenho grande identidade. Meu pai se chamava Orlando também.

Minha agente de viagens conseguiu uma suíte naquele hotel fantástico da Disney, que tem aquelas esculturas enormes de golfinhos e cisnes. Serão uns três ou quatro dias de descanso e diversão antes do principal trajeto: um cruzeiro temático pelo Caribe. No maior navio do mundo, com sete refeições diárias e parada na ilha exclusiva das Bahamas. Vou comprar um smoking para o jantar com o comandante.

Providencialmente, uma das escalas do cruzeiro é na simpática ilha de Grand Cayman. Com cinco bancos por metro quadrado, precisa ser explorada com cuidado. Vou conversar com os gerentes e ver que tipo de vantagens oferecem para receber meu rico dinheirinho. Acho que preferirei aqueles que aceitarem doc, pra não precisar levar dinheiro na mala.

De Orlando sigo direto para Austin, no Texas. Só para pedir autógrafo para meu ídolo, Willie Nelson e conhecer a torre, na Universidade do Texas, de onde um maluco ficou atirando em todo mundo que estava lá embaixo. Para não me estressar, dou uma chegada a San Antonio, a Veneza das Américas, para passear de barco nos canais da cidade, ir naquele restaurante fantástico que fica numa torre altíssima e conhecer o Alamo.

Volto ao Brasil antes de maio, para comprar um apartamento na Praia Brava, perto dos do Jorge Bornhausen e do Guga, um outro no Costão do Santinho, do lado do do Arthur Moreira Lima (também vou colocar um piano de cauda). E colocar um portão elétrico e circuito de câmeras de vigilância na minha casa. Só aí já foi um monte de dinheiro.

Ah, e terei que formalizar minha saída do governo. O Luiz Henrique não vai gostar, paciência, não terei mais tempo de ajudá-lo.

Em maio faço 50 anos e o mês todo será de comemorações. Para começar, na passagem por São Paulo, a caminho da Europa, jantarei no Terraço Itália e visitarei as gravações do programa do Jô no estúdio da Globo na Marginal Pinheiros.

Sempre na primeira classe, vou a Paris, onde me espera um carro último tipo, daqueles com quilometragem livre. Pego um trem para Zurique (o carro vai num vagão especial para automóveis, agora que sou rico não preciso ficar dirigindo pelas estradas). Lá, visito alguns banqueiros e se der tempo dou uma chegada a Berna, para visitar o fantástico clube Mocambo (uma vez conheci uma carioca que tinha uma prima que trabalhava lá). Dizem que rola de tudo.

Resolvida a questão das aplicações e do futuro dos filhos que terei a partir de agora, dou uma chegadinha à Alemanha, ali pertinho, para visitar a Floresta Negra. Bem no meio da Floresta tem uma confeitaria que serve uma torta mundialmente famosa. E depois, a festa continua numa das cervejarias em que se toma chope em canecos de cinco litros cantando, dançando e comendo comida típica de Blumenau. Saudades da Oktoberfest brasileira...

No final do mês quero estar na Suécia, para conhecer as monumentais loiras desinibidas que encantaram a seleção canarinho de 1958. Sem querer me comparar a Garrincha, ou mesmo a Pelé, também gosto de um bom drible, se é que vocês me entendem.

Antes de voltar, um jantar no Tour d´Argent, em Paris, com vinho de U$ 2 mil a garrafa, trufas brancas, caviar do verdadeiro, pretinho e ostras de Santa Catarina. Seguido de uma noitada no Folies Bergère, que dizem estar melhor que o Moulin Rouge. Amanheço nos lençóis macios e limpos do Hollyday Inn do aeroporto Charles De Gaulle, para pegar, de tarde, o vôo da Varig (se a empresa ainda estiver operando até lá), porque brasileiro tem que prestigiar o que é seu.

Viram? Está tudo planejado. Agora com licença que já são dez horas e tenho que ir à Caixa. Obrigado pela leitura nestes seis meses de blog, pelos comentários sempre tão gentis e generosos, pelos links, desculpem qualquer coisa. Quando o dinheiro acabar eu volto.

Até.

despedida veiculada por Carta Aberta

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