24.4.03

Eu odeio insetos.
Odeio. Odeio muito.
O único inseto com o qual eu já me dispus a ter um relacionamento amistoso foi a Josefa, e deu no que deu. Então a minha tolerância com esses seres asquerosos, cheios de linfa, antenados, com seis patas e cobertura quitinosa não é lá muito grande. De formigas a baratas, se cruzar o meu caminho, morre. Dentro da minha casa, claro. Não vejo motivos para matá-los fora daqui, a menos que sejam abelhas, marimbondos, vespas e picadores em geral.
Pois eu chego na minha sala e lá está um grilo enorme. Marrom. Feio. Seis patas. Cobertura quitinosa. Antenas. Na parede. Já falei que ele era feio? Já? Pois então. Lá estava ele, aquele artrópode monstruoso. Me lembrei imediatamente do Marco e de sua tentativa de diálogo com um bicho desses há algum tempo. Eu não sou tão tolerante.
– Eu odeio insetos.
– ...
– Eu vou até a cozinha preparar um copo de leite e um queijo quente.
– ...
– Se eu voltar e você ainda estiver na minha parede, vira estatística.
– ...
– Vou abrir o blindex totalmente. Com um salto, você alcança a liberdade. Aproveite que hoje estou generoso.
– ...
– Pergunte para suas amigas baratas o que acontece com elas quando invadem minha casa.
– ...
– Eu matei uma com as mãos, dia desses. Se eu matei um bicho nojento daqueles com a mão, imagina o que eu sou capaz de fazer com um inseto limpo e inofensivo como você.
– ...
– Eu assisti um episódio de No Limite, certa vez, em que os participantes comiam grilos fritos com farofa.
– ...
– Me senti tentado a provar, admito.
– ...
– E você está muito bem nutrido.
– ...
– Você tem 7 minutos e meio pra ir embora. Até mais.
Fui à cozinha. Quando voltei, o grilo ainda estava ali, na parede.
Foi esmagado com um murro.
Não, não o comi. Já estava satisfeito.

Utopia Dilucular

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