O CÃO QUE FALAVA
Um ventríloquo achava-se em péssima situação financeira, mas, além de ser magnífico na profissão era ainda bastante esperto. Por isso, não se atrapalhou muito; saiu andando pela rua e catou o primeiro vira-lata que encontrou. Com o bicho debaixo do braço, caminhou até o boteco mais próximo, e, chamando o gerente de parte, disse-lhe:
- Olhe aqui. A única coisa que ainda tenho no mundo é este cachorro, que sabe falar. O senhor quer me dar duzentos reais por ele?
O gerente ficou logo na defensiva, desconfiado.
O ventríloquo começou a trabalhar. O cachorrinho deu um latido estridente e disse:
- Claro que eu sei falar! Vou aproveitar para reclamar que a comida neste boteco não presta. Já estive aqui uma vez!
O gerente coçou a cabeça espantadíssimo. O ventríloquo sorriu com ternura para o cão, e disse ao outro:
- O senhor vê, para mim é uma tristeza me separar dele, mas eu preciso muito desse dinheiro. O senhor está disposto a comprar o bichinho?
- Duzentos reais é muito. Eu dou cem.
Dizendo isso, enfiou a mão no bolso por trás do avental, e tirou o dinheiro.
O nosso amigo não estava em condições de regatear. Agarrou a nota, agradecendo comovido, e foi saindo. Mas quando já se aproximava da porta, o cachorro gritou:
- Então eu não valho mais de cem reais, hein? Pois só por isso eu agora nunca mais falo uma palavra!
E, ao que parece, cumpriu a promessa...
Padre Levedo
19.4.03
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