19.4.03

O CÃO QUE FALAVA

Um ventríloquo achava-se em péssima situação financeira, mas, além de ser magnífico na profissão era ainda bastante esperto. Por isso, não se atrapalhou muito; saiu andando pela rua e catou o primeiro vira-lata que encontrou. Com o bicho debaixo do braço, caminhou até o boteco mais próximo, e, chamando o gerente de parte, disse-lhe:

- Olhe aqui. A única coisa que ainda tenho no mundo é este cachorro, que sabe falar. O senhor quer me dar duzentos reais por ele?

O gerente ficou logo na defensiva, desconfiado.

O ventríloquo começou a trabalhar. O cachorrinho deu um latido estridente e disse:

- Claro que eu sei falar! Vou aproveitar para reclamar que a comida neste boteco não presta. Já estive aqui uma vez!

O gerente coçou a cabeça espantadíssimo. O ventríloquo sorriu com ternura para o cão, e disse ao outro:

- O senhor vê, para mim é uma tristeza me separar dele, mas eu preciso muito desse dinheiro. O senhor está disposto a comprar o bichinho?

- Duzentos reais é muito. Eu dou cem.

Dizendo isso, enfiou a mão no bolso por trás do avental, e tirou o dinheiro.

O nosso amigo não estava em condições de regatear. Agarrou a nota, agradecendo comovido, e foi saindo. Mas quando já se aproximava da porta, o cachorro gritou:

- Então eu não valho mais de cem reais, hein? Pois só por isso eu agora nunca mais falo uma palavra!

E, ao que parece, cumpriu a promessa...

Padre Levedo

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