19.4.03

Sonhos infantis

Como toda criança eu sonhava muito, tinha idéias mirabolantes do tipo, assar goiaba verde pra dar pros meus primos menores comer, ser um dia capturada por um ET gigante do formato de um chiclete Ploc de tutti-frutti, sair lambendo os blocos recém rebocados da construção da minha casa só para conseguir bastante minerais, comer as rosas do jardim da minha mãe pra ficar com hálito perfumado, entre outras coisas. Mas uma coisa que eu sempre escondia de todos era como eu imaginava que seria meu futuro.
Eu sempre discutia isso com a minha boneca Chapeuzinho Vermelho, passava horas dialogando com a minha filhinha sobre como seria nossas vidas depois que a mamãe (no caso eu) crescesse. Segundo meus cálculos, quando eu tivesse 10 anos de idade seria adulta o suficiente pra morar sozinha, eu já tinha planejado tudo, ia construir um cômodo com caixas de geladeiras do lado do ferro velho perto da minha casa, por que dessa maneira ficaria muito mais fácil de arrumar material pra construir, a caminha da minha filhinha seria feita de uma caixa de melissinha que eu tinha ganho no natal passado, a minha seria feita com a caixa do fogão da minha mãe, eu acho q ela não iria se importar.
Eu cataria papel na rua e venderia no ferro velho e compraria arroz e feijão a granel, cozinharia numa latinha de goiabada que eu acharia na rua. Pra minha filhinha eu compraria danoninho pra ela crescer forte e feliz. Eu teria também um tambor bem grande onde eu apararia a água da chuva pra tomar banho e lavar minhas roupas. No quintal, teria um enorme jardim com flores plantadas dentro de potinhos de margarina. E daí quando eu estivesse bem velha, com mais ou menos 22 anos eu me casaria com o balconista da padaria por que assim ele poderia levar leite e pão quentinho todos os dias pra nossa casa.
No final dessas conversas eu sempre chorava, por que eu achava que ia sentir muita saudade da minha família, mas que a vida era dura mesmo e eu tinha que enfrentar aquilo. Naquela época eu não sabia o que significava isso, só sabia que era o que minha mãe falava pra mim quando eu pedia um pônei de presente de aniversário.

Em caso de coma - Me coma!

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