24.4.03

Parecia filme
Mais uma vez, a roupa de oncinha. Sexta-feira Santa a dentro. Tiara de diabinho. Deus, uma puta velha com tiara de diabinho, blusa de oncinha e Despeito De Dar Dó. Sim, tudo com D. De Deus, de Diabo, de Demência. Desamor. Lá, na escadaria do prédio da mais fodida de todas as avenidas. A mais fodida de todas as vidas. Os dois. Na escadaria.
- ... continua doendo.
- A culpa não é minha, essas coisas acontecem.
- Não diga que a culpa não é sua. Não quero acreditar. É minha?
- Não, essas coisas acontecem.
- Eu não quero que doa.
- Mãs não dói tanto assim.
- Não é você quem está sentindo isso. Posso desistir?
- Desistir?
- Sim, desistir. Para que as coisas deixem de doer.
- A gente não conhece o amanhã. A questão não é desistir ou não.
- Não sei agir assim. Já disse! Qual o mal de dizer sim ou não?
- ...
- Responde, porra. Sim ou não.
- A gente não conhece o amanhã.
- Estou pensando no hoje, no agora, nessa dor. A dor é presente. O passado cicatriza, o futuro não dói agora. Só o presente. Essa dor. Você não enxerga isso?
- Você não precisa disso.
- Nunca passei por isso.
- Você é bem melhor do que isso.
- Eu fui.
- Foi?
- Sim, agora sou isso. Acho que a coisa já cristalizou.
- Desandou.
- Não mude minhas palavras. Porra, você sempre muda minhas palavras.
- Schiiiiiiiii...
- Não estou berrando.
- Schiiiiiiiii...
- Caralho, você não entende nada. Dói demais. O que eu faço?
- Eu não posso ajudar. Você disse que queria trepar com meu amigo.
- Eu disse isso?
- Disse, naquele dia.
- É, naquele dia doeu.
- Não é hoje que dói?
- Começou naquele dia, com aquela cena. Doeu.
- Vamos entrar.
- Quero ir embora. Que ódio. Odeio você.
- Mentira.
- Odeio, sim. Odeio.
- Não seja louca, você é melhor do que isso.
- Vá tomar no seu cu.
- Tchau.
- Tchau. Beija minha mão?
- Beijo. A gente não conhece o amanhã.

Juliana não tem epidímio

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