Santíssimo e Venerandíssimo Padre Levedo:
Pode me chamar de Marlene. Não digo meu nome verdadeiro porque tenho muita vergonha do anda acontecendo na minha vida. Tenho 50 anos, e meu marido, 55. Adalberto é o taxidermista [mané que empalha animais] mais famoso aqui de Osasco, porém nossa vida sexual anda, perdoe-me o termo, uma bosta. É que Bebeto anda sempre às voltas com formol, micos secos, palha e arame. Seu interesse pelo meu corpo tem se reduzido muito. Eu até que entendo, não sou mais aquele violão que eu era aos 20 anos. Agora estou mais para um contrabaixo. Mas isso não explica porque ele anda tão envolvido no trabalho. Eu disse a ele: "Bebeto, nada de trazer castores para empalhar no fim-de-semana!". Mas não adianta. Ele sempre traz seus bichinhos.
Foi por essa época que tudo começou. Era uma noite quente de verão. Eu havia passado o dia inteiro com minha grutinha latejando, suplicando por recheio. Pensei em seduzir Adalberto. Vesti meu baby-doll mais provocante, preto, que deixava uma boa porção dos meus seios fartos à mostra. Me deitei languidamente sobre os lençóis de cetim, e me servi de champanhe. Fiquei de bruços e arrebitei bem minhas generosas nádegas. Foi quando eu estava nessa posição que Adalberto entrou no quarto. Ele vestia seu pijama amarelo imundo, e vinha mastigando a dentadura. Eu rosnei sensualmente para ele, passando a língua nos meus lábios grossos. Sabe o que aquele idiota fez? Nem me olhou, deitou e virou a bunda para mim, resmungando. Eu decidi provocá-lo com um excitante beijo na orelha. Me aproximei, respirei sensualmente na borda da sua orelha, e deslizei minha língua por ela. Por incrível que pareça, ele já estava dormindo, e apenas murmurou: "passa, lulu!"
Me senti ultrajada. Meus pentelhos eram uma mata atlântica pegando fogo, à essa altura. Não consegui dormir. Pensei em beber um uísque para acalmar minha canoinha úmida, e me dirigi para a sala. Foi então que eu o vi. Padre, alguma vez já viu um hamster empalhado? O bichinho parece vivo, seus globos oculares substituídos por delicadas contas vermelhas, seu pêlo brilhante permanentemente conservado por produtos químicos, seu bigode ereto farejando os odores do infinito. Me aproximei, fascinada, e acariciei o pêlo branco do seu lombo. Um arrepio de desejo percorreu minha espinha, e não consegui me controlar. Apanhei o delicado animalzinho e o enfiei com violência na minha caverna de prazer. Imediatamente meus joelhos afrouxaram e comecei a cambalear pela sala. Ondas de orgasmo varriam qualquer vestígio de racionalidade da minha mente. A sensação de abrigar um inocente roedor empalhado nas entranhas do meu ser me deixava doida. Quebrei mesas, cadeiras, mordi um guia telefônico, passei um trote interurbano, escrevi uma carta anônima, assisti a todo o programa da Hebe Camargo. Fiz tudo o que uma educação repressora sempre me impediu de realizar, e sabe do que mais? EU GOSTEI!
O tempo passou. A orgia com o hamster me deixou quieta por uma semana, mais ou menos. Mas uma bela tarde, precisei entrar na oficina que Adalberto mantinha nos fundos da casa para seus projetos mais importantes, em busca de um saca-rolhas. Quando abri a porta, me deparei com o maior, o mais sensual, o mais suculento calango quimbundo. Sua cabeça escamosa se erguia majestosamente, o olhar sapeca me fixava com uma expressão zombeteira. Eu tremi. Santo Padre, eu sou humana. A carne é fraca. Não agüentei. Não me fiz de rogada: besuntei o lagarto todo com Amendocrem e enfiei-o todinho no cu. Depois, escondi o seu rabo numa dobra do vestido e fui ao shopping center. A sensação de andar rebolando pelos corredores do shopping com um sáurio entalado no cano de descarga era a mesma de estar sendo currada no Jurassic Park! Os homens me devoravam com o olhar, sem nem desconfiar que eu estava todinha, completamente, absolutamente preenchida com meu amado lagarto, que decidi chamar de Osório.
Temos vivido muito bem, desde então. Adalberto me perguntou se eu havia visto um calango no qual ele estava trabalhando. Olhei para ele cinicamente, e disse: "Não, meu bem. O que eu faria com um lagarto empalhado?" Tenho certeza que ele jamais vai descobrir. Só se ele procurar na minha bunda. Mas como não olha para minha bunda há mais de um ano, isso não me preocupa. O que me preocupa, Santo Padre, é o seguinte: Eu sou normal?
confessionário do Padre Levedo
10.4.03
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