2.5.03

Acordo cedo, fico enrolando na cama (leia-se sofah), vendo TV, até tarde. Roupa de ginastica, proteçao solar 50 (um colega de trabalho outro dia disse que eu jah to ficando morena por conta do passeio diario de bicicleta. Fiquei apavorada, um dos grandes medos da minha vida é ficar moreninha), mp3 player, lah fui eu encarar o percurso de mais ou menos 7 km até Torgiano, pra visitar meu cachorro na oficina. O dia lindo, meio abafado por conta do vento Scirocco que vem da Africa, um sol danado. Como é bom sentir calorzinho de leve depois de MESES de inverno! Quando saio de casa to ouvindo Ring My Bell, mas logo chegando à estrada a Aretha Franklin jah tah cantando nos meus zovidos (R-E-S-P-E-C-T. Muito adequado.). Continua cantando, depois vem a CeCe Penniston. Carros passam voando, eu nem ligo. Observo que a temporada de reproduçao das Minhocas Umbras jah deve ter acabado, nao vejo mais nenhuma morta na estrada. Agora é a temporada Porco-Espinho e Camaleao, duzias desses bichos atravessando a estrada, ou mortos claramente na tentativa de faze-lo. Faço uma curvona, jah tah rolando Gloria Gaynor. O vento começa a soprar contra, eu, teimosa e em processo de auto-flagelaçao declarada, nao mudo a marcha, nem reduzo a velocidade; penso nos meus quadriceps femorais dando duro, coitados, contraindo, contraindo feito doidos, as pedaladas sempre iguais, no ritmo da musica, o acido lactico chegando, a ardencia crescendo, vai, mula, quem mandou ser burra, vai, pedala, sente dor, muita dor, vai, vai! Passo em frente à casa do prefeito (em italiano se chama "sindaco", acho super Didi Mocoh), logo depois tem uma ladeirona, o vento ainda contra, nao tem jeito, tem que mudar a marcha. Por sorte Bangles começa a cantar, walk like an egyptian, dah vontade de fazer pose de hieroglifo e sair dançando feito uma retardada. Quando a ladeira termina jah estou com os Pretenders in the middle of the road, jah vejo a torre que dah nome à cidade, jah vejo os janeloes altos da oficina. Chego lah ouvindo Tom Jones, nao vejo meu cachorro. O lanterneiro sai da oficina pra esclarecer: o Legolas tah com o pai dele, que fica com pena e o leva pra casa toda noite agora, e hoje ainda nao chegou pra trabalhar. Vou passar aspirador no escritorio e no "quarto" do Legolas, totalmente cobertos de pelo. Solto a dalmata do estacionamento de onibus em frente, ela me adora, virei sua idola desde a Pascoa, quando a soltei da corrente pra brincar com o Leguinho, e dei comida e troquei a agua. Brincamos um pouco, mas ela é uma mala, muito agitada, e sujéééérrima (domingo vou dar banho no Legolas e ela vai entrar no lote também, nao quero nem saber). Manobro o caminhao (aquele) pra perto de uma tomada, aspiro mais uns quilos de pelo do Legolas. Ettore chega com "o clero", como diz a Arianna, todos os 4 cachorros; brinco com o Leguinho um pouco, tah tarde, to com fome, tenho roupa pra passar, faxina pra fazer e coisas pra remoer. Vao todos almoçar fora, almoço do dia do trabalho pago pelo patrao, ano passado foi otimo. Deixamos os cachorros todos na oficina, pego a bicicleta, volto pra casa. Quando os Commitments terminam Too Many Fish in the Sea (também muito apropriado) desligo o bichinho, fico curtindo o silencio da roça, o vento morno na cara. Uma cobrinha verde bonitinha atravessa na minha frente. Chego em casa coberta de insetinhos. Dizem que joaninha dah sorte, eu tomei uma chuva de joaninha hoje, vamos ver se dah certo. Tomo um litro de agua mineral, depois iogurte de pessego com maracujah, depois sacrifico uma lata de guaranah Antarctica. Almoço a salada de macarrao que sobrou de ontem, com iogurte natural em vez de maionese ou creme de leite. Boto uns pedaços de lombo que o pai do Chefe Meio Idiota me deu de presente outro dia, porque to com preguiça de fazer carne. Sento no sofah e penso na vida, catatonica (eu, e nao a vida). Levanto horas depois, televisao ainda ligada. Faço faxina rapida. Passo quilos de roupa. As janelas estao todas abertas, que entre o Scirocco, e as moscas (jah falei que a Italia no verao parece a Etiopia? LOTADA de moscas?), termino com as roupas, vou tomar banho, sento de roupao no sofah, vendo porcarias na TV. Toca o telefone, é o engano de sempre: nao, aqui nao é o veterinario... Faço as unhas dos pés. E reparo que pela primeira vez desde, sei lah, outubro, NAO ESTOU USANDO MEIAS! Estou de havaianas dentro de casa, sem meia! E estou de short e manga curta! Puta que pariu, como é bom olhar pra baixo e ver seus dedinhos em vez de uma meia colorida (as minhas meias sao TODAS coloridas). Boto feijao preto pra cozinhar, cozinho batatas com alho e alecrim. Venho pro computador pela primeira vez hoje (ainda estou com os punhos doendo por conta daquela traduçao enorme e chata que andei fazendo). Acho a Lia, estamos falando de feijao pelo icq. Janto feijao com farinha. O lanterneiro manda SMS, nao vem pra jantar. Otimo, penso, assim as batatas ficam pro meu almoço-relampago de amanha. O peito de peru tah lah fora, dentro do seu Tupperware, descongelando com o vento africano, amanha é soh grelhar, botar as batatas e pronto. O feijao é pra congelar. Marta manda SMS, nao rola night hoje, o avoh tah doente. A tv lah da sala diz que a Marianella saiu do Grande Fratello (sim, eles traduziram Big Brother), eu nem sei quem é Marianella, mas sei que ficaram uma americana, uma macho-man romana com nariz de tomada, um porra-louca e um cara lindo.

E a dor no peito, que jah tinha passado, voltou, e vou dormir antes que eu morra.

diarinho da pacamanca

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