16.5.03

Botar medo em crianças é um esporte que a humanidade pratica há milhares de anos. Na minha família, o artifício paternal também era usar o pavor para nos manter longe de encrenca. O problema é que até hoje tenho taquicardia quando penso nos dois maiores vilões da minha infância: Homem do Saco e Reverendo Moon.

Não sei se eles eram conhecidos (e tão temidos) em outras partes da cidade, do estado ou do país. Mas, segundo constava a lenda urbana no meu bairro, a coisa corria assim: o Homem do Saco era um especialista em capturar meninos e meninas e perambular pela cidade com eles enfiados num sacão levado nas costas. Gozado como eu nunca desconfiei que seria meio idiota o cidadão rebocar tanto peso a troco de nada...

De qualquer modo, eu parei de acreditar nessa primeira papagaiada envolvendo sacos e homens errantes por volta dos sete anos. Mas foi aí que tudo piorou, porque enquanto o Homem do Saco perdeu espaço, o Reverendo ganhou destaque na mídia infantil.

Supostamente, o Senhor Moon rodava pela cidade com uma Kombi azul com cortininhas na janela apanhando pirralhos a caminho da escola (assim sendo, qualquer feirante que passasse na porta do colégio me fazia correr para trás do bebedor).

Mais tarde, Moon fazia os reféns passarem por sessões de – segure-se na cadeira, que agora a cena vai ficar terrivelmente forte – lavagem cerebral!!! Ah, que medo me dava pensar nisso!!!

Como o leitor já deve ter imaginado, minha mentezinha destorcida figurava que “lavagem cerebral” era um procedimento cirúrgico que envolvia médicos trabalhando em porões, serras, bisturis, mangueiras e jatos de sangue e água para todo lado. O Reverendo Moon, para mim, era um apavorante violador de cérebros, portanto.

Hoje eu sei que o Homem do Saco foi criado pelo imaginário adulto para manter a garotada do lado de dentro do portão e o Reverendo Moon não passa de um dono de seita que tem problemas com o Fisco norte-americano.

Mas vai explicar isso para o meu cérebro que teme ser lavado em uma imunda sala de operações...

Garotas que dizem NI

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