Coisa de moleque
Nasci e me criei em um bairro de classe média, mas como todos na minha rua, fui criança de pés descalços, jogando bola no asfalto e jogando amêndoas em quem passava na rua. Claro, depois correndo que nem um maluco prá não tomar um cascudo.
Uma vez estávamos jogando bola, deviam ser uns 12 ou 14 garotos no total e tinham alguns fazendo a “de fora”. Eis que um dos mais habilidosos foi chutar a bola e acabou arrebentando a tampa do dedão no asfalto e isolando a bola, que foi cair cheia de quinas no quintal de uma casa próxima e de muro alto. Claro que primeiro nós rimos tudo que podíamos rir e depois fomos ajudar o coitado. Dedão enfaixado, cadê a bola? Vai você buscar, não vou não, vai fulano, vai beltrano, vai que eu não vou, alguém resolveu pular o muro. A bola voltou e nada do moleque voltar. Preocupados, dois pularam o muro prá ver o que tinha acontecido, mas também não voltaram. Então foi mais um: pulou o muro, demorou um tempão e depois, do alto do muro disse prá todos pularem lá prá dentro: Além do muro havia uma laje e, dessa laje tinha-se vista pro quarto dos donos da casa que, nus sobre a cama, faziam com a benção de Deus aquilo que o Diabo gosta.
Oras, sexo explícito de graça? Qualquer moleque quer ter acesso! Pulamos todos, já avisados de que não devíamos fazer barulho ou acabava o espetáculo. E a molecada passou o trinco na boca e, com os olhos arregalados e ouvidos atentos via e ouvia cada movimento, sem perder um detalhe do que ocorria. Mas faltava alguém... faltava o Gordo! E quem vai chamar o Gordo? Vai você, não vou não, vai sim, não vou, alguém decidiu chamar. Quando o moleque subiu no muro viu o Gordo conversando com o Mancada, pessoa que não precisa de apresentações devido ao singelo apelido.
- Psiu, Gordo!!! Vem cá! – disse o moleque, sussurrando.
- Que foi? Por que você está sussurrando? – perguntou o Gordo.
- Sobe aqui que você vai ver. – disse, o moleque, estendendo-lhe a mão.
Então o Gordo e o Mancada pularam o muro e o Gordo, curioso ia perguntar o que estava acontecendo quando foi interrompido.
- Olha lá! Eles estão fudendo! – berrou Mancada.
Aí foi um corre-corre: quando o casal olhou pela janela, deu de cara com a molecada toda de butuca analisando a performance do casal e a mulher cobriu-se o começou a gritar; o marido, com a bunda de fora, abriu a gaveta procurando o revolver. E quem quer esperar ele encontrar? Sebo nas canelas! Correr direto prá casa sem olhar prá trás e depois fingir que nada aconteceu.
Ah, bons tempos que não voltam.
Alea Jacta Est
13.5.03
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário