5.5.03

Enquanto almoçava, pensava que o problema da "espiritualidade" nos dias de hoje, fora o vocábulo verdadeiramente denunciador, não é a falta de relacionamento do homem com o que se chama Espírito, mas precisamente a presunção de que esse relacionamento ainda se faz presente de alguma forma válida.

Seria erro dizer que não há relacionamento algum. Há, mas de uma maneira loucamente equívoca e gnóstica, para não dizer criminosa. O problema, em suma, não são os pacatos e efeminados niilistas, mas os molengas e efeminados "religiosos", os nossos supersticiosos de hoje.

A religião, sem entrar muito no mérito da questão (vale lembrar o axioma patrístico: extra ecclesiam nulla sallus), reduziu-se a uma pletora de alternativas bizarras e equivocadas. De um lado, maçons e demais gnósticos querendo "dar-se bem no mundo" e postulando "espiritualidade" simultaneamente, o que constitui contra-senso; de outro, confissões antigas tornadas modernas com completa desfiguração da tradição.

Os substitutos para a velha religiosidade transcentente são todos gnósticos: new age, socialismo, budismo ocidentalizado, yoga, auto-ajuda, protestantismo em suas mil e uma seitas, para citar alguns. Todos trazem o selo do desprezo completo ou do amor incondicionado ao mundo, o que dá no mesmo. O selo do coisa-ruim, por assim dizer.

Em uma palavra, o problema não está na falta de religiosidade, mas no erro quanto ao que significa "religião". Julgando que acharam um substituto à altura, porque não passam de plebeus do Espírito que nada fizeram senão adaptar o bem e a verdade a seus desejos desordenados, entregam-se confortáveis a uma vida esvaziada de transcendência e ainda orgulham-se de estar protegidos de todo o mal. Querem duas coisas mutuamente excludentes: concupiscência, apego impenitente aos bens terrenos, e salvação, consolação espiritual.

Religião é dever, submissão à Vontade de Deus e verticalidade, tudo isso por meio da erudição, da contemplação e da ação (studium, theoría, actio). Temor, reverência, nobreza. Coisas que põem medo em qualquer homem moderno que se preze.

homilia do comentário ultramontano

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