26.5.03

O que a literatura não é: séria

O que escritores não querem dizer, sobretudo os mais pomposos, é que o que fazem é uma variante de moleques brincando com bonequinhos, fazendo o som do soco, pshhhhh; as histórias podem ter ficado mais complexas e menos físicas, os bonequinhos passaram a existir só mentalmente, pode ser que não haja soco, mas é isso. Ana Karênina era um bonequinho que se atirou debaixo de um trem, piuiiiii, tchrammm...., fez Tolstoi na sua escrivaninha, só que de modo mais sutil; e é isso, escritores vestem ternos e enchem o peito e falam em simpósios, e se metem a falar de política, mas basicamente são brincadores de bonequinhos internacionais, que brincam tão bem que foram arrastados de seus quartos em Trinidad Tobago ou de Mensk ou de Tatuí, e se tornaram conhecidos; mas por mais fátuos e pomposos que sejam, por mais que falem da identidade européia ou da narrativa metalingüística, ainda têm os bolsos cheios de bonequinhos. Durante os simpósios intermináveis, em que homens solenes se caceteiam em tcheco, os melhores metem as mãos nos bolsos para sentir que os bonequinhos ainda estão ali, e dizem olá.

Alexandre Soares Silva

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