Tem ali no canto da mesa um cobertorzinho de boneca Polly que eu fiz porque a Marina me pediu. É de crochê, bem pequenininho, ficou legal. Eu sei fazer crochê, nem me lembrava disso. Eu sei fazer tricô, sei bordar, só não sei costurar. Nem quero saber. Enfim, fiz esse cobertorzinho essa semana, porque ela encontrou lã, agulhas e etc num baú de Bali que eu tenho na sala e nunca abro, nem me interessava o que tinha lá dentro. Tinha essas coisas. Parece que nem era eu, não sei explicar. Eu era outra pessoa antigamente (alguns anos atrás), outro ser humano. Outro ser. Outra coisa. Não sei mais o que sou, mas foda-se. Parece incrível para mim que um dia eu fui um ser humano. Não que isso seja alguma glória ou demérito. Só acho que não sou mais um ser humano. E isso é estranho. Bem estranho.
Mas eu ia falar que filhos são uma coisa muito real. Eles querem que você seja uma mãe normal, uma pessoa que cozinha, limpa a casa, lava a louça etc. Eles precisam disso. Mas eu recuso o papel, em parte porque sou rebelde, em parte porque acho que isso tem que ter um fim. Não foi justo para a minha mãe ter abdicado de tanta coisa por nossa causa, por quê eu perpetuaria essa merda toda? Mas a Marina me pede que eu faça crochê, e eu faço. Nem foi de má vontade. Ela adora uma caminha que eu fiz para a Polly, é uma porcaria de uma bucha de lavar louça cortada, com um paninho costurado em volta. Ela adora aquilo, embora tenha trocentas caminhas de plástico, compradas por um preço absurdo. Me sinto um lixo ao pensar nisso. Não quero ter tanto poder sobre ela. Preferia que ela gostasse mais das compradas, que custam só dinheiro e qualquer fábrica faz.
Céu azul lindo demais na ilha de Rinos - parte II
19.5.03
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