17.6.03

entre partidas e chegadas, somente ela permanecera ali.
conhecia de cor todos os detalhes da casa, em cada canto uma lembrança.
abriu a janela, deixando que o sol entrasse sorrateiro, esquentando o frio que existia dentro dela.
andou pelos cômodos, o silêncio como companheiro. por um momento, pôde rever detalhes da infância feliz que lá tivera.
lembrava-se das brincadeiras no jardim, da casa cheia, risos pelo ar, cheiro de bolo de canela (ah, adorava esse em especial); recordações que lhe apertavam o peito, e faziam seus olhos marejarem.
mas não era tristeza o que sentia, era uma saudade boa, daquelas que tocam na alma.
andou mais um pouco, e deu com seu antigo jardim, quanto tempo não o via.
sentou-se no degrau da escada, e ficou admirando o que hoje era somente capim crescido. lembrou-se imediatamente da beleza que ali existia: sua plantação de girassóis, que cultivava com carinho e dedicação, como se cada um deles representasse para ela uma vida, um de seus filhos imaginários.
aos poucos, foi retornando à realidade, voltando para seu mundo. levantou-se e fez menção de retornar à casa, quando avistou um pequeno girassol, indefeso, solitário. quase sucumbindo ao sol escaldante e à falta de cuidados.
com o coração disparado, correu para pegar um vaso e, com paciência e maestria, retirou-o do solo e o colocou cuidadosamente no vasinho cor de laranja.
trancou tudo, virou-se e olhou a casa pela última vez.
com seu vaso nas mãos, e o coração em paz, caminhou em direção ao horizonte. não estava mais só. seria agora mais uma na caminhada.
entre partidas e chegadas...

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