1.6.03

Na Porta

Deixo minha consciência na porta, esperando de braços cruzados algum traço de autocrítica, mas realmente não sei o que isso significa. Quero você, com seus lábios gelados e seu coração quente. Com seu abraço forte, seu hálito de pasta de dente. Quero suas mãos que percorrem pontilhados em meu rosto, que inevitavelmente ligam meus olhos aos seus.

Deixo minha inocência na porta, de rosto vermelho, com um arrepio nos cabelos de tanto desejo. Quero seu tato vacilante, que toca minhas costas num instante que não quero esquecer. Me beija entre as escápulas, minha pele entre seus dentes, arranca minha alma pelas tangentes, e tenho que ser seu.

Deixo minha conivência na porta, olhando os rodapés das paredes, com a idealização torta de não te enfrentar. Quero seus movimentos de serpente, suas coxas que me encaixam em movimentos inconsequentes. Quero suas manias incoerentes, seus hábitos displicentes que só me trazem pra mais perto de você.

Deixo minha anuência na porta, concordando com a mente que reclama contra o corpo que conclama todos os sentidos em mim. Quero seus beijos com a certeza de que com eles posso lutar, pela língua que mais explora, pela saliva que mais demora a nos dominar. Quero seu corpo para disputar quem vai por cima, quem determina a maré de nosso olhar.

Deixo minha influência na porta, tentando dominar meu toque, querendo encher de nuvens seus olhos de luar. Mas quero seus raios, sua gravidade que me leva em um vai e vem, que me transforma em ondas do mar. Quero seus tratos de amor, onde nunca se perde, onde se decide onde a densidade de nosso lábios deve estar.

Deixo minha eloquência na porta. As palavras morrem onde nossos corpos quedam, onde a nossa essência rompe para entrar.

Quero você.

má influência do Cardiotopia

Nenhum comentário: