12.7.03

ADEPLHIA PARTE 1

Aquele orgasmo ficou no passado, mas gostaria que continuasse presente. Perpétuo. Infinito. Mas, foi. Desde então sinto uma dor lancinante. Infeliz. Minha história é triste demais. Mais que isso. É repugnante, humilhante, deprimente. Fui roubado. Não é o que vocês estão pensando. É pior. Foi a maior decepção que já tive. Eu a amava. Minha preciosidade. Talhada, esculpida e torneada pelo maior dos experts. Um artesão de renome universal. O cara era o fodão. A operação custou uma fortuna, mas valeu a pena. Ficou perfeito. Como ela me trouxe alegria. Foi o melhor ano de minha vida. Confesso: ela foi minha grande e única paixão. Amor verdadeiro. De pica.

Da primeira vez que a vi, julguei-a insuportável. Em minha sentença seus cabelos ruivos eram um anúncio da personalidade forte que, de encontro com a minha, provocara-me uma certa repulsa, instantânea e gratuita. Sempre fui assim: primeiro desconfio, depois analiso friamente e por fim acabo cedendo. Coisa de mineiro. Acontece que passado o temporal da primeira impressão, veio a tempestade da segunda; e a tormenta da terceira. Foi quando percebi que a cada encontro o incômodo que sua presença me causava crescia alucinadamente. Porém, o mal-estar logo começou a diluir-se em minha mente e passou a esquentar minha pelvis, depois arder, queimar e assim progressivamente, até o momento em que me surpreendi plenamente apaixonado. Comecei então a dormir Amanda, acordar Amanda, almoçar Amanda, lanchar Amanda, jantar Amanda, até que resolvi pedi-la pelo delivery. Não foi barato não. A taxa de entrega era de 70% + impostos. E eu banquei o frete. Cacifei a ingrata. E ela veio.

Depois vieram os olhos brilhando, o sorriso constante, os jantares românticos e, certamente, as noites de sexo. Só que aí começaram os problemas. Nada aconteceu. Amanda tinha a Síndrome de Rokitansky – esse tema está registrado nos compêndios de medicina, juro. Era Adelphia. Não possuía vagina. A incidência da síndrome é rara. Estimasse 1 caso para cada 4 mil mulheres. Mesmo assim, ela é a mais freqüente das anomalias congênitas do trato genital feminino e sabe-se que é decorrente do desenvolvimento inadequado dos ductos de Müller. A sua causa é desconhecida e ela não apresentava alterações nos cromossomos.

Foi esquisito. Ela sempre tinha uma desculpa para não transarmos. Já a tinha visto pelada e, num dos amassos, passado a mão de leve em sua buceta. Pensei que fosse virgem, o que Amanda confirmou ¿ e nem podia ser diferente. Ela era a própria virgem. A vagina dela era uma cavidade virtual. Aquilo, a princípio, me deixou intrigado, mas não assustado. Amanda era maravilhosa. Gata 9 graus na escala Richter. Nunca tive dúvidas que a satisfaria completamente. O que faltava era a vagina, o resto estava todo lá. Com minha língua trissulca, a fiz gozar várias vezes, lambendo seu clitóris de uma forma alucinada, mas suave. Sexo anal não era tabu para ela. Percorri também todos os acidentes anatômicos de seu reto, atravessei o diafragma da pelve e o do períneo, e até notei, por exemplo, as pregas transversas do canal anal. Mas, literalmente, faltava alguma coisa. Além da ausência da menstruação, a incapacidade de procriar e a tentativa frustrada de relação sexual vaginal eram um incômodo imenso para ela. Amanda chorava muito por causa de seu defeito anatômico e freqüentava o analista três vezes por semana por causa disso. Me declarei a ela, disse estar completamente apaixonado e até amando ¿ na época não tinha certeza disso ¿, mas nada conseguia fazê-la esquecer do problema. Chocado com a minha incapacidade em deixá-la completamente satisfeita, ofereci a ela a felicidade: uma intervenção cirúrgica para a reconstrução vaginal. Amanda sorriu e finalmente disse que me amava. Gozei de satisfação.


CONTINUA em faker fakir

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