30.7.03

Não, a boca que me beija não é mais a tua. Não tem teus dentes, tua língua, o cheiro dos teus lábios, a consistência da tua pele, o gosto triste da tua saliva. A boca que me beija é terna e mansa, às vezes me morde e me esfola, mas não me devora. A boca que me beija não me reduz a zero entre o nada e o lugar nenhum, não deixa que eu me esvaia, não me possui, não me condena à anti-matéria, não causa uma corporragia de mim mesma. A boca que me beija me acaricia, me nutre, me gosta, me ama, mas não me desmantela, não me expurga, não me cospe, não me usa. A boca que me beija não me reinventa, não me ressuscita, não me envergonha, não me põe de joelhos, não me faz implorar e não vomita estrelas na minha. A boca que me beija me acolhe, me embala e me consola, por não ser mais a tua boca que me beija.

não discuto nem bato boca

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