31.7.03

No que tange o quesito sexo e muitos dos seus assuntos correlatos, nunca fui precoce. Muito pelo contrário. O primeiro beijo, a primeira transa, a descoberta de novos desejos, tudo teve um ritmo lento, quase angustiante. Se na adolescência isso me incomodava, hoje acho que foi bom assim. Sempre fui intenso e ansioso — combinação meio perigosa —, mas aprendi a explorar, a tocar e ser tocado. Tive que aprender a canalizar o fogo que me arde para poder aproveitá-lo — nasci com hormônios demais. Sexo para mim se tornou, então, um aprendizado constante e sem fim, pois cada parceiro(a) tem seu timing, temperatura, tensão, uma química que reage e me faz reagir diferentemente. Eu não consigo enxergar o meu prazer sexual como algo dissociado do prazer sexual da outra pessoa. Sinto-me inteiramente dedicado e, no relacionamento, fiel. Acho que não há nada mais frustrante do que — baixando o nível — comer ou ser comido feito um pedaço de carne. Ponto.

Mas isso não me parece ser a regra. Não condeno o sexo casual, sem compromisso — se há tesão, por que não dar vazão, por que não deixar que a energia flua por esse canal? Acho, inclusive, que se é possível ter um amigo(a) de foda e isso se dá sem grilos, então vá fundo! Sexo também é uma forma — e muito saudável — de carinho.

E aí chegamos ao ponto. Eu não entendo sexo sem carinho. Posso ter conhecido você numa festa, mal sei seu nome, mas o tesão que surgiu entre nós — algo do momento, da vontade, uma coisa animal, dose cavalar de libido e volúpia — é tanto que mal podemos conversar e vamos pra cama, saímos do mundo. Mas a partir daí o que ocorre é pura comunicação. Minha mão sussurra em sua orelha que meu pé gostou muito do seu. E você diz, sofregamente, à minha nuca que sua língua tem fome. Quando minha barriga geme você entende que tenho calor e me refresca.

No fim, após o fim, meus dedos brincam com seus cabelos, não os prendem. Você não é meu e eu sei disso, nem quis ali que fosse. Mas é inevitável e aconselhável que eles digam adeus enquanto pensam distraidamente no mundo lá fora. Então não tenha medo do meu toque. É a minha maneira de dizer "estou feliz" e o meu desejo que você também esteja. A não ser, talvez, que seus cabelos tenham medo de se prender nos meus. Ou que seus olhos tenham medo da escuridão que encerram, ou da chama dos meus. Mas aí também não tem por que me perguntar se estou carente, não é mesmo? Melhor seria perguntar que bicho te mordeu. Esse, não fui eu.

Bravíssmo Bravo Fígaro

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