27.7.03

To Danada
Queria sair mas acabei de trabalhar muito tarde e depois que voltei das compras, ja' tinha perdido a vontade. Meu marido, pra' nao precisar dizer que nao queria sair, tomou banho, botou a samba-cançao e se sentou no seu buraco no sofa' perguntando que filme tinha hoje.
Olhem as opçoes de divertimento sabado à noite:
1) ir comer uma pizza com cerveja na mesmissima pizzeria que vamos tem uns 10 anos... Com direito a escolher: ou senta dentro e suporta o ventilador e o cheiro de fritto di mare que te acompanha até em casa, ou entao senta fora e aguenta os pernilongos e as mariposas que caem dentro da cerveja;
2) ir na festa dos comunistas comer... fritto de mare e depois do café com aniz sentar no banquinho e ver os velhos dançarem;
3) perai que eu to procurando outra... ah! essa seria agradavel: ir na cervejaria pra sentir frio. Tem um restaurantezinho perto da fabrica de cervejas e fica num vale delicioso. Do lado de fora tem uma gruta (cheia de morcegos) e uma cascatinha natural (até no inverno é legal, a cascata congela);
4) ir na festa dos soldados alpinos comer sanduiche de linguiça na chapa com vinho branco. Depois do café com aniz, sentar no banquinho e ver os velhos dançarem (dèja-vu).

Tem outros lugares? Onde? Nao quero ir.
Eu fiz um sanduiche de galinha defumada, tomei um pinico de vinho branco e...

Fiquei Feliz!!!
Minha amiga-clone chegou. Eu fui la' ver ela e os meninos dela. Ta' pretinha, a danada. A gente fica até triste quando volta de casa, mas depois a gente tem mesmo é que levar a vida pra' frente e é melhor fazer com alegria.

Ela me trouxe FARINHA DA BAHIA (uau!), bem branquinha e fininha, uma latinha de goiabada, um pacote de caldo Knorr sabor galinha caipira, um pedaço de carne seca, outro pedaço de carne seca diferente, um pedaço de doce de coco,
uma lata de leite moça, umas balinhas baianas e, pra Juliana, duas camisetas com a bandeira do Brasil, uma é linda feita em batik, muito maravilhosa. Acho que vou passar fome uns dias pra' poder entrar nela e roubar da Ju.

Ok, no's estavamos comentando as sensaçoes de quando voltamos em casa, depois de 12 anos entao... Aconteceu comigo que surtei nos primeiros dias. Nao parava de falar e enchi o saco de todo mundo, ainda bem que eu fiquei sem voz no terceiro dia. Nao conseguia sentir emoçoes e odiei isto, porque ficava com a sensaçao de nao estar vivendo aqueles momentos e pior, me sentia deslocada e com medo que as pessoas me achassem fria. Ela também se espantou com as efusoes da parentada e me disse que ficava ali parada enquanto ou outros pulavam de alegria por reve-la.
Outra coisa irritante é esquecer as palavras ou soltar uma frase em italiano com alguém. Se te pedem pra' repetir, repete em italiano, ta'?
Olha, é claro que depois de viver tantos anos em um lugar, voce acaba fazendo parte dele o do seu astral. No nosso caso, que nao vivemos em Napoles (que tem o "clima" parecido com o Brasil), bem ou mal nos transformamos em "gente daqui". Aqui, ninguém grita. Nunca. Aqui, se encontramos uma pessoa que adoramos no meio da rua, fazemos um sorriso e, no maximo, um polido abraço. Aqui, ninguém faz festa em casa pra' nao pertubar o vizinho. Aqui, ninguém fala com o vizinho de uma janela pra' outra. Eu so' sei o sobrenome do meu vizinho, nunca entrei na casa de nenhum vizinho. Aqui, quando voce bate com o carro, desce em silencio (se nao morreu) e vai olhar o prejuizo ja' com os papeis do seguro na mao (ta' bom, se o estrago é grande, gritam e gesticulam, porrada é mais dificil). Aqui, quem é muito exuberante, as pessoas evitam.
Aqui é assim e nao é um defeito, é assim e so'. As pessoas se divertem em maneira composta e eu nunca vi sair uma briga em festa. Nao é o paraiso dos bens-educados mas acho que as pessoas se controlam mais.
Ai' voce imagina, depois de uma vida, chegar no Brasil e ja' encontrar um pedaço da bateria da Portela no Aeroporto, nao consegue mais pensar em se largar como antes. Fica ali, dura, olhando pros lados com medo que os outros "reparem"...
Ai' passa um mes. Na ultima semana voce ja' retomou posse do balanço das cadeiras, ja' ta' tomando caldo de cana com pastel de queijo sem olhar pro copo embaçado, ja' ficou bebada em Santa Teresa às 3 da manha, ja' viu um ladrao correr em zig-zag na Presidente Vargas, virou brasileira de novo mas tem que voltar pra' casa. Logo agora que tava ficando bom.
Chega aqui, ve o marido no Aeroporto e corre pra' abarçar balançando os braços e dando gritinhos. Ele: "Te pedi pra nao beber no aviao. Olha so' como tu ta' alegrinha, tao te olhando...".

raccontato da Farofa na neve

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