4.8.03

Histórias de família I

Iniciozinho dos anos 50, na Vila Paraíso, em Vaz Lobo – bairro classificado pela minha adorada e saudosa avó como “cu de Madureira”. Dona Iva, a avó supracitada, havia proibido os filhos de brincarem na casa de determinada vizinha, pois a dita cuja bajulava as crianças com doces e refresco para saber todas as fofocas da vida alheia. Por conta disso, ficou furiosa ao ver o filho mais velho, então com uns sete anos, entrando na “casa proibida”.

Como o causo se passou antes de inventarem a psicologia infantil, Dona Iva armou-se de um chinelo, berrou um “Joãozinho!!!!” e ficou atrás da porta da casa esperando o filho chegar. Instantes depois, abre-se a porta, e ela, na tocaia, só vê o cabelo louro do guri entrando na sala.

Partindo do princípio que ele sabia porque estava apanhando, minha avó foi logo descendo o chinelo. Só que, na primeira pausa pra respirar, notou que a cara do filho não era exatamente a cara do filho. Era Miguel, caçula de uma família de judeus europeus que morava na Vila – da mesma altura que meu tio e com o mesmo cabelo louro. Para piorar o choque, o menino, aos prantos, disse:

“Ai, Tona Ifa, a minha mãe xá me pate tanto. Agorra a senhorra fai me pater tampém?”

Sendo mãe, ela sabia que poucas coisas revoltam mais que ver um adulto batendo no seu filho. Desesperada, pegou o menino, correu para a casa dele, contou a história para a família e preparou-se para ser fulminada. Para sua surpresa, a mãe do Miguel abriu um sorriso e disse:

“Nom fique assim, Tona Ifa. Ele tampém me desopeteceu e ia apanhar quando chegasse em cassa. A sernhorra só me poupou trrapalho.”


baixou o espírito de porco

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