quando eu morri
eu morri há alguns anos. eu morri e não sabia. soube mais tarde, bem mais tarde, quando encontrei meu corpo já em estado bem avançado de decomposição. quando eu me desenterrei só havia meus cabelos compridos de início de juventude e minha estrutura óssea. apenas um pouco de pele endurecida e enegrecida junto dos ossos. eu havia sido embalssamada como as múmias, portanto o tecido foi preservado. mas haviam buracos no lugar dos olhos. não havia sobrado mais nenhum órgão. eu me desenterrei. mas não sabia que era eu que tinha me desenterrado. sabia que era eu que estava ali morta, sendo acariciada por aquela mulher que havia me desenterrado.
aquela mulher não teve nojo de meu corpo morto e putrefado. ela acariciava meus cabelos que ainda eram da cor natural quando havia morrido. ela acarinhava meus cabelos, me abraçava, ali morta, e chorava. e eu via aquela eu balzaca acalentando saudosamente a minha eu defunta. contemplava a cena nem de muito longe, nem de muito perto. também não tinha nojo. não tinha nojo nem da morta, nem da saudosa com seus gostos necrófilos.
continua em boop it
2.8.03
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