4.9.03

Quando cheguei à cidade ganhei um mapa. Não era um reles mapa, era bonito, colorido, bem desenhado, convidativo ao passeio de meus dedos. Conheci a cidade através daquele desenho, fiz inúmeros passeios com meus olhos por ruas que meus pés jamais alcançaram. Não sei como descrever o prazer de caminhar com os dedos e com os olhos. É como o amor que se faz sobre a pele de uma pessoa. Carícias dos dedos sobre os pêlos e poros. Assim conheci a cidade como uma amante que aos poucos desvenda o objeto de sua paixão. Quando me desfiz do mapa, não foi por falta de amor ou zelo à pele da cidade. Foi porque compreendi que amores que só podem ser percorridos com dedos sobre o papel causam dores maiores. Prometi àquelas ruas que as amaria para sempre. E amo. Não preciso do papel para o caminho de meus dedos, tenho o sol daquelas manhãs dentro de meus olhos. Não, nunca jogo fora meus amores. No entanto, é preciso que me sejam leves como deve ser a bagagem de quem caminha. Tenho um mapa ainda, um que me cabe no espaço da memória. Não pesa nem dói. Faz-me sorrisos.

O mapa da walkwoman

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