25.9.03

Sigismund Schlomo Freud

Até eu criaria a psicanálise se tivesse um nome parecido com esse -- e sem dúvida usaria cocaína suficiente para matar um cavalo. Se Fraud não tivesse morrido, não completaria hoje, no dia do sorvete, 64 anos longe de nós, mas chega de falar do tarado da Moravia.

A sociedade quer o meu sangue novamente; doaria com o maior gosto, porém há um tempo mínimo. Não pensem que seja altruísmo; doaria porque meu sangue é podre, e há sempre uma possibilidade do teste falhar e uma parte de mim ter contribuído para a ruína de outrem.

Imagine: seu sangue ajudar a matar o Paulo Salim, ou o criador do Ursinho Pooh, ou um parente chato; é tentador.

Agora, uma confissão sórdida: só confio em enfermeiras gordas e de tez escura. Deve ser influência do cinema estadunidense, mas esta é a grande verdade, e tamanha é minha confiança em tal categoria, que Freud diria que elas substituem minha mãe quando estou no hospital, e aconselharia médicos e faxineiros a ficarem longe de mim.

A melhor parte de doar sangue, porém, é na hora do lanche; não devido à gororoba em-si, mas porque, após recebê-la, abaixo a cabeça e fecho os olhos, e fico escutando a reação das pessoas derredor.

"O senhor está bem?"
(Aceno que sim)
Dez segundos passam-se.

"Você está se sentido bem?"
(Aceno que sim. Vagarosamente)
Mais vinte segundos, tensão na lanchonete.

"Você quer se deitar?"
Levanto a cabeça:
"Não, obrigado, estava só orando."

Cai a cortina.

dies iræ

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