Aquilo sim era uma dupla de criação. Experientes o suficiente para entregar um grande trabalho na agência, jovens o bastante para encarar todas as baladas fora dela. E juntos, porque quando uma dupla dá certo, continua dupla fora do escritório.
Um tinha carro, o outro andava a pé. Por isso, no fim das baladas, o diretor de arte levava o redator para casa. Um dia, a caminho de casa, o redator contou que decidira se casar. Foi aquela confratenização meio ébria mas emocionada, com o carro em movimento e os postes se esquivando. Logo depois, o redator aponta:
- Vai ser naquela igreja.
Lá estava o templo majestoso, mais pelas duas ou três doses do que pela arquitetura. A partir daí, era todo dia:
- É aquela igreja.
- Eu sei, você já me contou.
- Você vai no meu casamento e vai sentar na frente, hem?
- Claro, claro.
Dias, baladas, semanas, o tempo passa a jato: chegou o dia do casamento. O diretor de arte enfeitou-se todo, terno, gravata, perfume e toca para a igreja.
Avenida, passa o primeiro viaduto, primeira à direita e lá está - não, lá não está a igreja. Caramba, era ali, avenida, viaduto, primeira à direita. Voltas no quarteirão, procura daqui, procura dali, nada. Dez para as sete. Cinco para as sete. Sete. Tudo bem, a noiva sempre atrasa. Sete e cinco. Ele muda o método de busca. Volta sistematicamente para a avenida e tenta começar o caminho do zero. Nada. Sete e dez. Avenida, viaduto, primeira à direita, segunda à direita, terceira à direita, sete e quinze. Suor no colarinho engomado. Cadê a igreja?
Quarta à direita, nada. De repente, o insight: um boteco na esquina. Pára o carro, entra apressado, sete e vinte, dois frentistas no balcão olham estranho para o ser engravatado.
- Conhaque. Duplo.
Vira o copo de uma só vez, franze o rosto todo, devolve o copo vazio, deixa o troco para o belconista e volta para o carro. Sete e vinte e cinco.
Sete e vinte e sete, a igreja. Ele conseguiu chegar antes da noiva e acenar para o parceiro que, nervoso, esperava a doce amada.
Sentou ao lado de uma convidada, parente aparente do amigo, que puxou assunto:
- Já conhecia a igreja?
- Sóbrio, ainda não.
E foram felizes para sempre.
dito assim parece à toa
6.10.03
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