14.10.03

A bonequinha e o Soldadinho

E por falar em coisas do passado, hoje estava me lembrando do Soldadinho. Soldadinho porque ele estudava na Escola militar do Dendezeiros e tinha aquela farda linda, caque e azul royal, usava aquele quepe azul e um veludinho com seu nome escrito na lapela.

Nunca tinha olhado pra cara dele, mas já ficava vidrada em suas pernas enquanto ele jogava futebol. Um dia vi ele lendo na janela. Lindo. Aquela pele morena, nariz fininho, cicatriz no supercílio (sempre adorei cicatrizes). Acho que foi quando me apaixonei por ele. Dia 23 de março de 1991. Tinha treze anos. A prima dele, que era minha amiga, havia dito que eu gostava de ler e ele estava fazendo isso pra chamar a minha atenção.

No outro dia passamos um pelo outro, trocamos balas Ice Kiss e olhares compridos. No começo achei que era coisa da minha cabeça. Todas as meninas queria namorar com ele e ele gostando de mim?? Não...Eu devia estar louca. Mas ele me mandou um recado por um amigo. 3º andar do bloco 8. Fui!
Mascava um chiclete, minhas mãos suavam e meu coração fazia um verdadeiro carnaval no meu peito. Não conversamos muito, estávamos nervosos, era o primeiro beijo dele, mas não era o meu (infelizmente). Tinha que tomar um providencia. Segurei sua mão, encostei no ombro dele, olhei meio de banda e bem calmamente beijei ele. O tempo parou. Eu sei que é meio clichê falar isso, mas se até hoje para, imagine aos 13 anos com o garoto dos seus sonhos? Me lembro que ele achou minha boca doce! Mal sabia ele que era o chiclete que estava estrategicamente escondido pra ele não perceber. Me recordo que depois comprei um saco desse chiclete e vivia com uns cinco no bolso. Estava sempre com a boca doce. E até hoje me lembro do cheiro da saliva dele que ficou e que ele me abraçava meio de lado pra eu não sentir "pressão". Bobinho...

Quando a gente se encontra é meio estranho. Ficamos procurando aquela bonequinha e aquele soldadinho de 12 anos atrás que não existem mais exceto em nossas lembranças. De todos os diários que já tive, as únicas paginas que me restam são as que contam o começo dessa história. Fim? Bom, essas histórias quase nunca têm fim...

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A história do Guarda-Roupa

E não é que eu esqueci mesmo dessa história? Minha irmã que me deu uma lembrada básica. Na época que namorava o soldadinho eu tinha uns 13 pra 14 anos...Lógico que era escondido, meu pai sempre pegou no meu pé e eu tinha que criar enredos mirabolantes pra poder ser uma adolescente normal. E foi nesse dia que o soldadinho bateu na minha porta. Quase cai pra trás, ele tinha passado duas semanas fora, tinha viajado pra ilha ou coisa parecida e eu estava morrendo de saudades super insegura achando que ele tinha me esquecido por conta de alguma sereiazinha de ponta de praia. Então ele bateu na porta. Eu estava sozinha em casa, bom, sozinha não. Minha irmã e a empregada também estavam mas elas não contam, então não resisti e mandei ele entrar. Fomos pro quarto e antes que todo mundo pense que rolou alguma coisa, não rolou. Era um namoro totalmente inocente. Deitamos no chão e ele ficou me contando tudo que tinha acontecido na viagem. Ficamos deitados até pegarmos no sono, abraçadinhos ali no chão.

De repente eu ouvi a sirene tocar 3 vezes. Mas como?? Ainda eram 3 da tarde e so meu pai tocava assim...MEU PAI????? AI, JESUS! O soldadinho deu um salto e eu não tive outra opção senão esconde-lo dentro do guarda roupa, o temido guarda roupa. Saí do quarto com o coração pulsando em minhas mãos, com os olhos esbugalhados imaginando como eu iria me safar dessa. Foi então que notei que havia algo errado. Meu pai não estava em casa e as duas filhas da p*** estavam rindo no sofá. Era um trote. Voltei pro quarto arrasada. O coitado do menino ficou 5 minutos dentro daquele inferno, buraco negro, caos, que era o meu guarda roupa. Abri a porta e ele estava la sentadinho, como se nada estivesse acontecendo. Ele saiu, eu com a cara arrastando no chão, a gente se despediu e eu prometi que daquele dia em diante, nunca mais deixaria meu guarda roupa bagunçado. É óbvio que não cumpri a promessa.

Palavras achadas por uma Garota Perdida

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