14.10.03

Pocko, o boneco de ventríloquo

Fiz um teste vocacional que me indicou uma forte vocação para ventríloquo. Achei que seria uma boa. Fui ao Fnac, no departamento de ventriloquismo (?), e comprei o Grande Livro das Piadas de Bonecos de Ventríloquo. Mas ainda precisava do boneco. Tinha um em promoção, bem barato. Seu nome era Pocko, como me disse o vendedor.

Pronto. Já tinha o boneco e o livro com as mais clássicas piadas de ventríloquos. Faltava uma platéia. Anunciei no jornal e começaram a chover ligações para que eu animasse festinhas infantis, bar mitzvah, casamentos, bodas de prata, bailes de debutantes e inaugurações de lojas de ferragens.

Fomos, Pocko e eu, para nosso primeiro trabalho, a estréia. Era uma festinha de crianças. Não cheguei a ensaiar, já que tudo parecia muito simples com o livro. Comecei com o clássico:

- Pocko! Diga 'Boa tarde, Garotadaaaaa'!

Ao que ele deveria ter respondido:

- Boa tarde, macarronadaaaa!

Mas, em vez disso, sucedeu o seguinte:

- Pocko! Diga 'Boa tarde, Garotadaaaa'!

- De que adianta?

- Que foi, Pocko?

- De que adianta tudo isso?

- Hã?

- É. Nós vamos morrer! Nós vamos todos morrer um dia!!!

As crianças começaram a ficar assustadas. Algumas choravam, outras olhavam assustadas e um garoto que parecia o menino do "Esqueceram de Mim" não parava de rir. Tentei controlar a situação:

- Calma, criançada! Ele só está brincando! Ele quer dizer que... que...

Mas Pocko interrompeu:

- O que eu quero dizer é que o fim é certo! Aqui, ó! - Pocko tirou da sua maleta um pulmão em decomposição - É isso que vocês vão virar um dia!!!

As crianças corriam de um lado para o outro, batiam nos pais e colocavam fogo nos enfeites de papel. Pocko e eu fugimos no meio da confusão.

Agora, temos uma festa de Semana das Crianças em uma locadora de fogões industriais para ir. Espero que corra tudo bem.


vida ou- (parte II)

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