Pocko, o boneco de ventríloquo
Fiz um teste vocacional que me indicou uma forte vocação para ventríloquo. Achei que seria uma boa. Fui ao Fnac, no departamento de ventriloquismo (?), e comprei o Grande Livro das Piadas de Bonecos de Ventríloquo. Mas ainda precisava do boneco. Tinha um em promoção, bem barato. Seu nome era Pocko, como me disse o vendedor.
Pronto. Já tinha o boneco e o livro com as mais clássicas piadas de ventríloquos. Faltava uma platéia. Anunciei no jornal e começaram a chover ligações para que eu animasse festinhas infantis, bar mitzvah, casamentos, bodas de prata, bailes de debutantes e inaugurações de lojas de ferragens.
Fomos, Pocko e eu, para nosso primeiro trabalho, a estréia. Era uma festinha de crianças. Não cheguei a ensaiar, já que tudo parecia muito simples com o livro. Comecei com o clássico:
- Pocko! Diga 'Boa tarde, Garotadaaaaa'!
Ao que ele deveria ter respondido:
- Boa tarde, macarronadaaaa!
Mas, em vez disso, sucedeu o seguinte:
- Pocko! Diga 'Boa tarde, Garotadaaaa'!
- De que adianta?
- Que foi, Pocko?
- De que adianta tudo isso?
- Hã?
- É. Nós vamos morrer! Nós vamos todos morrer um dia!!!
As crianças começaram a ficar assustadas. Algumas choravam, outras olhavam assustadas e um garoto que parecia o menino do "Esqueceram de Mim" não parava de rir. Tentei controlar a situação:
- Calma, criançada! Ele só está brincando! Ele quer dizer que... que...
Mas Pocko interrompeu:
- O que eu quero dizer é que o fim é certo! Aqui, ó! - Pocko tirou da sua maleta um pulmão em decomposição - É isso que vocês vão virar um dia!!!
As crianças corriam de um lado para o outro, batiam nos pais e colocavam fogo nos enfeites de papel. Pocko e eu fugimos no meio da confusão.
Agora, temos uma festa de Semana das Crianças em uma locadora de fogões industriais para ir. Espero que corra tudo bem.
vida ou- (parte II)
14.10.03
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