13.10.03

Caminho distraida pela calçada. Carros, pedestres, confusão de rostos e corpos me esbarrando. Chove e deixo-me estar ali. pingando pelos caminhos, sem guarda-chuvas. Por que decidi que hoje é dia de lavar alma. Logo ela, tão cansada do eterno estar e ser do dia-a-dia. Deixo que descubra a poesia das gotas.

Ando incrivelmente com vontade de abraçar o universo. Sorriso bobo no espelho. Nem mesmo as rugas em torno dos olhos conseguem amenizar a estranha sensação de felicidade que por hora me invade. Sei que é breve. Em mim, há pouco espaço para alegrias, natureza noturna, circunspectamente minha face espreita indagações. Mas hoje, não. Hoje visto-me de certezas e sensações.

E caminho lavada de chuva pelas avenidas cinzas da cidade. Percebo cores no asfalto. Poesias nos bêbados e mendigos do sinal. Busco balês nos passos cabisbaixo do que vão e vem. Música me acompanha. Cantarolando baixinho mantras de boa sorte.Amanheci assim. Não sei se entardeço do mesmo modo. Estranha gangorra de emoções que vive dentro de mim.
a criatura e a moça

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