12.10.03

Voltas

Passei minha infância inteira com vestidos de saia rodada. Eu adorava rodar em torno de mim mesma pra ver o balão que ela formava. Rodava até ficar tonta, cair, sujar o vestido e chorar porque a brincadeira tinha de acabar. E assim passei a vida, olhando minha saia e achando que aquilo era a única coisa que existia no mundo, rodando no próprio eixo pra ter a falsa ilusão que tudo se movimentava em torno de mim e levei tombos.
Rasguei meus joelhos, levei pontos na testa e torci meu tornozelo. Troquei meu vestido sujo várias vezes, usei curativos que ardiam sem ter ninguém para soprar. Eu estava rodando no escuro sem ver nada o que estava acontecendo, feliz por estar sentindo minha saia florida podia rodar mesmo no escuro. A luz se acendeu, seguraram nas minhas mãos e me pediram para olhar dentro dos olhos, para esquecer o significado da palavra tempo e sentir todos os sentimentos que me rodeavam, me propôs parar de rodar, e sentir que a minha saia está voando apenas no momento que o vento se fizesse presente em um dos lugares que estaríamos vivendo sem provocar tantos tombos, e se eles acontecerem, foi porque o buraco ou a pedra eram maiores que a nossa lucidez.

A luz acendeu na madrugada.
-Traks preciso falar com você agora!
-São duas e meia da madrugada! Temos que acordar às 5h00! Não dá pra ser depois?
-Não, tem que ser agora, olha bem pros meus olhos!
-Eu nem consigo abrir os olhos!
-Por favor! É muito importante!
-Pronto tão abertos! Só te digo que eu não vou lembrar de nada disso de manhã por que sou sonâmbula!
-QUER CASAR COMIGO?
(...)

Em caso de coma - Me coma!

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