19.11.03

elevador de hotel

parte 1: entre dois andares

acordei, comi a última fatia de pão, tomei um copo de suco.
me vesti e saí para o trabalho. entro no elevador, aperto o térreo e dou aquela viradinha clássica para ver como está o figurino diante do espelho. o elevador treme, faz um barulho enorme, dá um tranco e pára.

é tudo muito rápido, claro. mas do momento em que o elevador tremeu, deu tranco, fez barulho até a hora de parar cheguei a pensar que iria despencar dali até o térreo. quando o elevador parou fiquei estática e quieta por alguns segundos, esperando para ver se ele despencaria de vez ou daria algum outro sinal. que nada. ainda bem.

a primeira coisa que pensei depois disso foi: "não acredito que fiquei presa no elevador". estava entre o quinto e o quarto andar, mas isso é equivalente ao oitavo ou nono, porque há uma sobreloja entre o térreo e o primeiro andar do hotel que equivale a uns bons três andares.

pensei logo em seguida: "quanto tempo será que ficarei presa aqui dentro? e se esse negócio resolve cair?"

mas, como já ando um tanto habituada a ser "azarada", pensei:
"vou pedir ajuda. mais cedo ou mais tarde saio daqui".

peguei o telefone não sem um certo receio de: "e se o telefone não funcionar? e se ninguém atender? e se não for tão fácil assim me tirar daqui de dentro?" mas o curioso é que estas perguntas não me deixaram realmente nervosa. estava calma, calmíssima, para quem estava trancada sozinha no elevador entre um andar e outro.

estava discando quando pensei: "e se apertar o botão que força a abertura da porta, será que ela abre entre um andar e outro? mas e se estiver bem no meio da parede, será que eu não vou ficar com medo?"

enquanto esperava que alguém atendesse o telefone, arrisquei e apertei o botãozinho: "melhor tentar alguma coisa por conta própria do que esperar a boa vontade alheia".

não é que funcionou? apertei o botão e o elevador começou a descer. não sei se ele iria funcionar uma hora ou outra e isso foi coincidência. coloquei o fone de volta, fechei a portinha dele e esperei olhando fixamente para o lead que mostra o número dos andares. cheguei ao térreo, a porta se abriu e saí do elevador. comecei a tremer e meu coração disparou. só aí que fiquei assustada e abalada. comuniquei o fato ao segurança. ele percebeu que não estava muito bem e que era sério o que dizia, mas tampouco me abalei. ele disse que chamaria a manutenção e peguei o caminho para o trabalho, mas esqueci de comprar cigarros.

[boop it]

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