10.12.03

Contrição

Acredito em amor, em aleatoriedade, em destino e em tudo que de tão etéreo se prove inevitável. Dia sim, dia não, rezo pelo missal dos acidentes. Também creio na razão, na prudência e na nobreza, mas é comum me enxergar em meio aos frutos tardios dos tropeços de minha ponderação. Pior, tenho fé na open society ao mesmo tempo em que deposito todas as minhas esperanças nos happy few. Bebo, mas cultuo a clareza. Sou o ingênuo mais malicioso que conheço, paciente como o Cão, suspeitíssimo confrade da Fortuna. Vivo meus dias - por bem ou por mal - no tarde demais. Não sei dançar; todo meu movimento é bélico, contra inimigo nenhum, sem raiva alguma. Sou o autômato de meu próprio planejamento anterior, do qual muito pouco suspeito. Minto por ofício mas sou incapaz de desdizer o óbvio fora dos mundos que invento, os quais, obedientes, nunca saem do papel. Ando precisando praticar a descrença, mas puxa, como é complicada.

Daniel Pellizzari failbetter.

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