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Sento numa mesa no fundo do bilhar 75 com uma garrafa de cerveja e fico filmando os tacos em movimento. Talvez faça uma fezinha mas não conheço nenhum dos caras e ouvi o garçom dizer que o lugar estava cheio de canas. Estou estourado, só consegui sair do posto à uma hora da manhã quando o movimento parou. Anoto essas coisas num caderno que trago comigo porque tenho essa mania, vontade de rabiscar pra passar o tempo, fico sujando as folhas em branco. Conversando sozinho com a caneta, faço desenhos, contas, invento nomes e telefones de ninguém, uma lista de lugares onde já trabalhei, onde morei, nomes das garotas que já fiz, dos filhos da puta que me sacanearam, conversas que já ouvi e não conto pra ninguém. Anoto tudo. O pessoal lá de casa me achava maluco e me olhava enviezado. Família. Uma traveca pisca pra mim do balcão e um minuto depois está puxando uma cadeira do meu lado. Ela já está trincada e o silicone das bochechas treme. Os tacos param. Começo a suar. A traveca finge interesse no que escrevo e se estica pra perto de mim enquanto me passa uma bolsinha por baixo da mesa. Pede pra eu guardar que depois pega comigo. Ela implora e se afasta. Os tacos voltam a se mexer. Eu esvazio o copo de cerveja e me fixo no brilho das bolas sobre a mesa de bilhar. Lá pelas três da manhã o jogo dos canas acaba e eles se mandam. Eu vomito tudo no banheiro, lavo o rosto e vejo pelo espelho sujo que a traveca está atrás de mim, sorrindo. Lembro da bolsinha. Ela agradece e me alisa o pau por cima da calça. Eu desço o ziper e começo a mijar. Ela quer mais e eu deixo. Me convida pra aparecer no ensaio da Unidos do Cabuçu amanhã e vai embora. O garçom guarda a minha gorjeta magra e me passa um folheto de uma assembléia de Deus. Eu dou as costas e na rua dois camburões passam voando na contramão. Fuzis para o alto. Saio da gafieira quando o dia quer amanhecer e sob os arcos da Lapa uma pivete me negocia o rabo por 50 reais. Vai a merda. Quero me jogar na cama mas a Haway ainda está longe. Meu caderno dentro da calça arranha minha pele. Na porta da pensão uma mulher me pede 30 paus em troca de um boquete. Não tem cara de puta. Ela está nervosa e não quer subir. Vamos para trás de uma banca de jornal e ela se ajoelha. Eu viro o rosto para cima e uma nesga de sol me bate no olho. Ela perde a paciência comigo, fecha minha calça e eu lhe dou 10 paus. Subo correndo os 39 degraus e jogo meu caderno no latão de lixo do corredor. Minha barriga sangra. Não me custa nada fechar a porta do quarto.
Prosa Caotica
31.1.04
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