Andando pelo calçadão da Avenida Atlântica, em contagem regressiva para o carnaval do Rio, sinto uma pontinha de saudade de outra avenida - a Paulista. Andarilha contumaz, só ou acompanhada, conheço cada centímetro dela, minha velha amiga, de quem conheço segredos que só os muito íntimos sabem. Um deles é delicado e quase invisível, disponível aos muito atentos ou aos muito tristes, que costumam baixar os olhos para o chão.
Quando andar pela Paulista, não vá tão rápido. Olhe por entre as pedras pretas e brancas da calçada e você encontrará pequenos ladrilhos de todas as formas e cores. Alguns têm palavras e nomes escritos, outros retratam imagens que pedem atenção para serem compreendidas. Miniaturas de um mundo mais bonito delicadamente colocadas sob os pés dos passantes.
Descobri que a idéia de semear delicadezas no calçamento da avenida foi da artista plástica Anabela Santos, que colocou bloquinhos de vidro no chão entre o prédio do SESC e a rua Leôncio de Carvalho - e outras pessoas continuaram a espalhar flashes de cores e sentimentos no tapete às vezes sujo, às vezes maltratado da Paulista. Procurar por essas peças é interromper um pouco o barulho que os pensamentos fazem e parar para ouvir vozes mais simples, que não pretendem fazer discurso. Elas dizem: sol, lar, cena de amor. Coisas das quais nos desocupamos para pensar na guerra, no saldo bancário, na liquidação de verão - não podemos, afinal, nos desvencilhar do dia-a-dia.
Mas você que anda pela minha avenida, não esqueça de olhar para o chão - principalmente se estiver triste.
Mermaid Online
28.1.04
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