28.1.04

A cidade

Parece que posso ouvir aquele antigo samba Trem das onze. É frio em São Paulo, na velha São Paulo da Garoa , só não acho q ela é Terra Boa . Pelas calçadas da Paulista caminho lentamente, ao contrário da multidão que corre, de um lado pro outro em vários sentidos, totalmente sem sentido.

As pessoas disputam lugar com os camelôs vendendo quinquilharias do Paraguai, ou CDs piratas. Mais na frente chineses preparam um Yakissoba para judeus com trancinhas em suas barbas. Uma garota de cabelo cor de rosa espera em frente a algum banco seu namorado vestido com terno e gravata.

Atravesso a rua e vejo uma exposição com quadros do Dali que apenas as moscas observam, um homem chora, uma mulher grita ao telefone, um casal se beija sem perceber q o mundo não está em câmera lenta como eles pensam estar. Um homem ameaça se jogar de cima do Conjunto Nacional, os bombeiros esperam embaixo, e ele só joga uma meia suja, como se estivesse fazendo strip-tease.

A garoa continua e a música Trem das onze parece estar querendo me ensurdecer, minha roupa já está molhada, atravesso a rua correndo por que o sinal de pedestres vai fechar, fico presa no canteiro central. A chuva me encharca, a música me ensurdece, a única coisa que me restou foi a visão, que queria não ter para não ser a única a perceber que na esquina da Augusta um louco, arranca com ferocidade seus cabelos. Metade da cabeça está em carne viva, não tem sangue, apenas uma carne crua, recém descoberta, pulsando na freqüência da loucura da cidade.

Tenho vontade de vomitar por ver tantas pessoas indiferentes ao que acontece ao seu lado, bitoladas em seu umbigo, reclamando que suas vidas estão cheias demais por serem vazias demais.

Traquinas!

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