25.2.04

Hoje vi, enquanto fingia procurar roupas numa loja de departamentos onde entrei para me refrescar, um bebê cabeludíssimo no colo de uma mulher. Parecia ter apenas uns 02 meses, mas já possuía uma cabeleira vasta e espetada. Lembrava um ouriço. Aí comecei a imaginar um corpo de bebê humano com um bebê ouriço no lugar da cabeça. Um ouriço agitado, mexendo todas as suas pernas ( ? ), no colo da mãe, que examina com atenção sandálias cor-de-rosa de salto alto. Ri sozinha.

Estou lendo Henry Miller. E voltei a ter problemas de estômago: tudo que engulo parece se transformar numa bola de bilhar dentro de mim.

Sinto que, se realmente há algo que me impede de alguma coisa, esse algo sou eu. Embora queira sempre colocar a culpa em algo exterior. Sou pedra no meu próprio caminho. Eu ando um pouco cansada de todo esse complexo que chamo (chamam?) de "eu". Para amar e ter compaixão com esse ser que enxergo no espelho teria de me livrar de todas essas... coisas, que acumulei na tentativa de criar uma identidade. Criei uma cela. Teria de partir sem levar mala alguma. É como se eu tivesse me vestido com dezenas de casacos sobrepostos, para parecer alguém aos olhos do mundo, numa tentativa desajeitada de justificar minha presença aqui, mas só agora perceber que eles são pesados e impedem meus movimentos. E se me livrar deles ficarei nua e desprotegida.

O maior sinal de que estou deprimida é andar a esmo e não conseguir olhar nos olhos das pessoas que encontro no caminho. O mundo apodrecendo e eu olhando para o chão.

Um dia isso acaba. Ou não.

Não sei dançar.

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