apontamento
Acho curiosa a forma como as lembranças da infância habitam nossa cabeça. Para mim, pelo menos, nunca há um quadro completo, que me permita determinar exatamente como se deu o fato. São apenas fragmentos, parecidos com pedaços de sonhos que tivemos na noite anterior.
E assim foi com meu primeiro contato com um apontador de lápis. Lembro que estava do lado de fora de minha casa, sentada na rua. Sei, não sei como, que se tratava de uma casa no Bairro Floresta. Lembro-me da menina chegando da aula com um caderno na mão. Não sei determinar sua idade, já que, para uma criança pequena, tanto faz a pessoa ter 12 ou 32 anos. Afinal, no início da vida temos o costume de dividir o mundo entre "nós, pequenos" e "os gente grande".
Tenho na memória a imagem da "menina pequena" que eu era perguntando à "menina gente grande", já freqüentadora do universo escolar, o que era aquela coisa redonda e colorida que ela tinha nas mãos. Deve ter sido interessante para ela se deparar com aquela coisa miúda perguntando sobre um prosaico apontador de lápis. Ela foi gentil, me explicou e fez ponta em um lápis para que eu visse o funcionamento do interessante dispositivo.
Depois disso, minha infância foi sempre acompanhada de uma atração por essas maquininhas de afinar pontas de grafite. O auge da felicidade apontadorística seria ter um daqueles enormes apontadores de mesa, que afinavam várias pontas simultaneamente, bastando girar a manivela.
É... Nunca tive um daqueles. Mas querem saber? Acabo de inventar para mim uma mania em potencial: colecionar objetos que fascinavam a Mônica criança. O primeiro da lista? O apontador redondinho. Em seguida o grandalhão que se prendia à mesa tal qual um moedor de carne.
Bom. Esse "flashback" é cheio de buracos, de lacunas que o tempo impingiu a minha memória. Um deles é minha idade. O outro, a cor do apontador. Como não sou boba nem nada, em vez de me lamentar, vou fazer uma limonada com o limão que o esquecimento às vezes é. Meu primeiro apontador será vermelho. E minha idade? Três longos anos de vida.
monicômio
20.3.04
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