26.3.04

Estava pensando: caralho. O que explica um ser humano pedalar horas a fio numa academia para não chegar a lugar algum? Ou correr sei lá quantos quilômetros numa esteira para, ao descer dali, descobrir que se encontra exatamente no mesmo lugar? E no fim do mês ainda pagar por isso? Embora eu não seja do ramo, a explicação só pode ser psiquiátrica. Essas pessoas são adictas de endorfinas. Se você amarrar uma delas numa cadeira, ela começa com rubor facial, tremores, sua frio, sente palpitações, avança para convulsões, entra em estado catatônico, evolui para o coma e bate as botas. De morte matada. Vítima do próprio cérebro, que lhe diz antes do momento final: "A endorfina ou a vida". E se auto-extingue, utilizando uma região cerebral ainda não estudada pelos cientistas. Na falta de tempo ou dinheiro para a academia, a pessoa arruma um cachorro. E todo dia caminha horas e horas "no ritmo dele" em volta do quarteirão. "Tadinho, ele precisa tanto". Conversa. É o dono que precisa. A coleira está no cachorro para disfarçar. É o animal que tira o dono da cama para levá-lo a suar, maltratar tendões e ligamentos, desgastar as articulações. Ninguém me contou, eu já vi. Adictos. Ou viciados, como se dizia nos tempos politicamente incorretos. Não entendo de química, mas, conhecendo os laboratórios, tenho certeza de que logo teremos endorfinas sintéticas na farmácia. Quer dizer, teremos não. Alto lá. Terão. Eles terão. E aqueles que não puderem comprar contarão com o apoio dos EA. Endorfinômanos Anônimos. Sem os 12 passos, senão eles correm.

do Não-Endorfinômano declarado catarro verde

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