Fiquei no chuveiro deixando a água cair forte e perscrutar lânguida cada canto do meu corpo, como que numa tentativa de revelar, e por conseguinte expurgar, nem sei bem o quê. Talvez tristeza, coisa que por si só não faz sentido. Talvez a causa de minha tristeza. Mas como expurgar-me de meu próprio corpo, morada onde há muitos anos fui encerrado, enclausurado sem sequer me perguntarem se era isso mesmo. Queria catarse. De qualquer tipo, de qualquer forma, vinda de qualquer lugar. Paleativos, que fossem, mas já me serviriam. Me abandonei ali, e segui, etéreo, para outras paragens distantes. Assim fiquei por longo tempo, imóvel, molhado, com olhos vagos enfiados em idéias, em imagens e elocubrações, como procurando o caminho da felicidade que já não é aqui. Sem que eu percebesse a angústia compactada no meu coação irrompeu e eu chorei, chorei até soluçar, até que meus olhos ficaram injetados e senti o gosto do chorar na boca. Mesmo assim, agora, enquanto escrevo ainda com os cabelos molhados a pingar-me sobre a testa, sinto que não retirei nada de mim, mas ao contrário, somei.
Henry_Wotton
21.3.04
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