O DIA EM QUE O TEMPO PAROU PRA UMA MIJADINHA.
Então vinham pela Belém-Brasília, num Gol 99, o Tempo, o Açodamento, a Experiência e, ao volante, o Serviço. Reparando que o Tempo tava com a bexiga cheia e suando frio (tinham entornado um montão de cerveja), o Açodamento palpitou:
-- O Tempo tá apertado...
O Serviço estacionou num posto pro Tempo fazer xixi. E ele começou a demorar, demorar. No carro, o Açodamento, inquieto, pôs a cabeça fora da janela, fixando o olhar no banheiro do posto, e depois de um esticado silêncio comentou:
-- Olhaí, acho que o Tempo acabou.
A Experiência, mãe de todas as Paciências (é, com o Tempo ela veio dando à luz uma prole considerável, embora ele não assumisse a parternidade), sabendo que o mijão gostava de dar umas sacudidelas pra não molhar a cueca, obtemperou:
-- Calma. Acabou nada. Sempre sobra um pouquinho. Cuca fresca.
O Açodamento, pai da Impaciência (é, com a Experiência ele acabou sendo pai, embora ela preferisse deixar a guarda da menina com ele), cutucou o Serviço, fazendo gestos (é, o Serviço era surdo-mudo) pra que o outro desse logo a partida e largassem o mijão ali. A Experiência:
-- Nanananinha. Não adianta pressionar: sem Tempo o Serviço não sai.
O açodamento, quase chorando, jogou a cabeça pra trás e se recostou na poltrona:
-- Ah, se o Tempo voltasse...
E a Experiência, descascando uma banana:
-- Não adianta se lamuriar agora, baby. Fica frio.
O que aconteceu foi que o Tempo, com o xixi preso, acabou estourando a bexiga. Ouvindo o barulho (não me perguntem como), o Açodamento, histérico, virou-se pros outros e:
-- Tão vendo? Tão vendo! O Tempo estourou! A culpa vai ser nossa!
Nisso vinha vindo um Cliente em sua moto de Polícia Rodoviária. O Açodamento, já em pânico, reparou que o Serviço era quem mais tinha jeito de bocó ali e, virando-se pra ex-amante -- com o fim de livrar a cara de ambos -- sussurrou:
-- E aí? Entregamos o Serviço pro Cliente?!?
A Experiência, sem se intimidar:
-- Peraí que eu dou um jeito.
Saiu do carro, ajeitou a cinta-liga, abriu um pouquinho o decote e foi falar com o Cliente.
Neste instante acordei.
Eu cochilava no departamento de arte da agência, enquanto o pessoal da criação e do atendimento batia boca sobre uma campanha que tava atrasadíssima. Não sei se aquilo se misturou ao meu sonho, mas tomei a decisão imperiosa – corri pro banheiro.
Moral da história: Propaganda chega em tudo que é lugar. Inclusive no sono de redator preguiçoso.
Ao Mirante, Nelson!
10.3.04
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