20.3.04

A Saga do Primeiro Beijo (Post XXXI)

O Bilhete:

"Murilo, eu sei que você está bravo comigo e por isto eu queria pedir desculpas. É que eu estava doente e comecei a ficar zonza, zonza, zonza e meu estômago doía... Mas aquilo tudo que eu disse no parque não tem nada a ver com você. Juro.
Será que a gente pode ficar de bem?"

Preciso de um papel de carta bonito.

- Alê, eu falei uma carta! Esse bilhete está ridículo. Você acha o quê? Que o Murilo vai ler isto e desculpar você só porque o papel de carta é rosado e tem desenhos de flores do campo?
- Não agoura, Marilu! Não agoura! E isto não é rosa; é bordo. O bilhete está lindo. Pode entregar assim mesmo. E cuidado pra não dobrar. Entrega enroladinho como se fosse um pergaminho.
- Vai quebrar a cara.
- Não vou, não.

Passei a tarde procurando pontas duplas no cabelo. Uma ansiedade que me fazia bater a cabeça na parede. Pra piorar, a Marilu não voltou em casa naquele dia. Só foi aparecer no dia seguinte. E à noite!

- Isso são horas?
- Você parece minha mãe falando. Eu, hein...
- E então? Como foi?
- Eu avisei...
- Ele não vai me desculpar?
- Não vai, não.
- Mas o bilhete estava tão bonitinho... O que ele disse?
- Ele não disse.
- Como não disse? Ficou mudo?
- Eu falei que era um bilhete seu, ele olhou e nem abriu.
- Foi embora assim? E a carta?
- Não leu...
- Devolveu pra você?
- Rasgou.
- Rasgou? Sem ler?
- Ãnrãn... Trouxe os pedacinhos pra você não achar que é invenção minha.
- Que cretino!
- Alê, a gente já esperava que isto pudesse acontecer. Eu acho que essa história não tem volta, não.
- Que insensível! Você disse que eu estava doente?
- Disse. Em seguida dei o bilhete e ele rasgou na minha frente.
- Não acredito! Infantil! Babaca... Por que esses meninos são tão, tão, tão... Arght!

Ali começou um problema que me acompanhou durante muitos anos. Bastava o menino não me dar bola e eu ficava enfurecida. Enfurecida e muito mais apaixonada... Não era masoquismo, era burrice mesmo.

- Olha, sem querer ser estraga-prazeres, mas já sendo, eu acho melhor você esquecer o Murilo.
- Não. Ele não quer ler, vai ouvir.
- Alê, o Ivo disse que o Murilo não quer mais ver você.
- Tudo bem. Eu não ligo. Mas ele vai ter que ouvir. Vou gravar uma fita cassete.
- Já vi que vai sobrar pra mim de novo...

Vem, me ajuda a procurar o gravador.

----------> Continuará em
Amarula com Sucrilhos

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