18.4.04

Expatrias

A fila de carrinhos dos carroceiros estaciona ao lado das bancas de flores da Pç. Generoso Marques, que cheira à amor ou cheira à velório, depende do nariz do cristão que sente o perfume no ar. A distribuição de sopão aos pobres e expatrias da Pç. Tiradentes começa logo que as luzes se acendem. A Catedral e seus anjinhos funéreos pouco atrativos aos olhos das crianças, parecem tristes e abandonados. Desvio do panfleteiro, ele corre em minha direção, não, obrigado moço, ninguém é obrigado a encher o bolso ou as ruas de papel. "Mas é o meu trabalho", ele resmunga de lado. Grande questão da humanidade. É o trabalho dele, mas o meu direito de não ser incomodado na rua deveria ser respeitado. Eu estaria colaborando com o desemprego no Brasil apenas por não pegar um simples panfleto que eu nem vou ler? Da próxima vez eu pego, só por desencargo de consciência. Madame-alguma-coisa, cartomante, faz leitura de tarô cigano, joga búzios, vê a cor da aura. Quanto essa impostora deve pagar praquele cara distribuir os panfletinhos e emporcalhar a cidade inteira? Um pastor passa com a bíblia nas mãos, discursando em plenos pulmões na XV de Novembro, grita perto de mim: “Teus filhos pagaram!”. Pelos meus ou pelos teus pecados? Pagarão por mais um panfleto no chão...

Old Style For The New Generation Priority

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