Prova de Masculinidade, por Zef
O protagonista: Marcelão, 25, solteiro, carioca, morenaço, sarado, tudo de bom. O protótipo do "jovem macho caçador". O dia: sábado à noite. A situação: uma festa a fantasia, da turma de arquitetura da sua faculdade, uma miríade de gatas lindas, sensuais, espertas e interessantes. Tão interessantes que o tema da festa é mulher vestida de homem e homem vestido de mulher, pra subverter e mexer com a libido da galera. Por isso é que Marcelão, 25, sarado, bonitão e etc está indo para a balada aquela noite com o vestido da irmã, alguma maquiagem, baton, enfim, o mais produzido possível dentro do suportável pelo seu ego macho até a última gota da cueca. Só que, no caminho, Marcelão descobre que está zerado de grana e vai ter que passar num Banco 24 Horas, com aquela produção toda em cima. E aí...
Agência de Banco 24 horas, zona Sul do Rio, 23:45. Luana, uma gata deliciosa, 27 anos, usando vestido curto, salto e meias, dentro da agência, arruma as meias, com o vestido levantado na coxa. Marcelão entra, de repente, flagra o lance e se abala. (Ouvimos o pensamento dele.)
MARCELÃO (PENSA) Ah, meu pai... Maior gostosa! Que pernão!
Luana procura o cartão do banco na bolsa. Marcelo se dirige ao caixa, enfia seu cartão e digita. Surge na tela: "escolha sua opção: saque ou depósito". O cartão de Luana cai e ela se abaixa para pegar. Marcelo, com o rabo de olho, vê mais do que suporta e perde a concentração.
MARCELÃO (PENSA) Saque ou depósito? (VÊ A GATA SE ABAIXANDO) Saque, depósito, saque, depósito, saque, depósito...
Luana pega o cartão, Marcelo disfarça e se liga na máquina. Na tela: "digite sua senha".
MARCELÃO (PENSA) Três cinco dois (OLHA A GATA) ...peitaços... Um... tremendo bumbum! Não, não... Três cinco dois um meia...Meia, mini-saia... que par de coxas, brother! Porra, Marcelo, a senha! Vamo lá: três cinco dois um meia nove... Meia-nove? Com esse avião? Ai, nem fala, nem fala!
Apito. Cartão sai. Na tela: "senha errada, tente novamente". Luana já impaciente. Marcelo põe o cartão de novo e vê que Luana o encara. Ao invés de digitar, ele também a encara.
MARCELÃO (PENSA) Gostosa! Eu te mordia inteirinha!
LUANA (FALA, DANADA) Comé que é, minha filha? Presta atenção na tela e pára de me filmar! Tá me achando bonita, é?
MARCELÃO Não... (SEDUTOR) tô te achando linda, maravilhosa, arrasadora.
LUANA Sei. Então se apressa aí que depois eu te conto onde comprei o vestido.
MARCELÃO (SE LIGA) Peraí... Você não tá entendendo...
LUANA Olha, se fôr o sapato nem adianta contar, porque vocês têm um pé enorme, só acha em loja especial pra travesti...
MARCELÃO Aí, gata... Eu não sou travesti! Sou homem, morou? Macho. Clássico, do sexo masculino, radical... (CHEIO DE MARRA) Quer tirar a prova?
LUANA Não precisa... Eu tô vendo pela maquiagem e pelo saltinho. Machão legítimo. (PASSA À FRENTE) Agora sai, bicha, chegou minha vez.
Marcelão segura o braço dela, com força, com aquele charme quase pitboy, famoso na "naite".
LUANA (NEM AÍ) Que é, santa? Surtou? Vai me dar uma surra de saltinho?
Marcelão nem responde. Agarra Luana e tasca-lhe um beijão na boca. Seguem-se, com algums variações: chupa-chupa, rala-rala, roça-roça, esfrega-esfrega, etc-etc. No fim...
MARCELÃO (FIRMEZA TOTAL) E aí, gata.. Sacou agora qual é? Sentiu a pressão?
LUANA Nossa. (GEME) Nunca pensei que fosse tão excitante beijar um traveco!
Marcelão sente a honra ultrajada com mais aquele erro de julgamento, seu coração aeróbico de sobe pra freqüência de treino, a fim de detonar geral, mas Luana, ainda zonza, continua falando.
LUANA Muito melhor que homem! Mais louco, erótico, sensual... A transa deve ser um delírio! (AGARRA ELE DE NOVO, CHEIA DE TESÃO) Como é seu nome mesmo, hein?
Marcelão sente a pegada da deusa em chamas colada nele e responde, cheio de "graça" e malícia.
MARCELÃO Na identidade é Marcelo... mas, depois que assumi, mudei pra Sharlene.
E assim Marcelão Maia, 25 anos, carioca, solteiro, sarado, tudo de bom, tesão das patrícias do Pepê, desiste da festinha, e, de vestidinho, sombra e rímel, supera o rito de passagem e entende o sentido da vida, se transformando, enfim, de um garotão narcisista quase bobo num homem de verdade, acima de qualquer suspeita. Está escrito - a baton - nas histórias da madrugada.
(adaptado de roteiro inédito escrito por Juca Filho, Mauro Wilson e Péricles Barros)
Elas por Elas
10.4.04
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